Mantendo a estratégia de se colocar como alternativa moderada a Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) para chegar ao segundo turno da eleição presidencial, a campanha do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, vai veicular na TV na noite desta quinta-feira (20) um programa em que relaciona o capitão reformado e o PT à Venezuela e ao ex-presidente Hugo Chávez. A peça fala sobre “o que um voto errado pode fazer com um país” e lembrará elogios do candidato do PSL e de Lula a Chávez. O tucano diz que “o risco de o Brasil se tornar uma nova Venezuela é real”.
A propaganda de Alckmin cita “semelhanças” entre os dois países e enumera “riquezas naturais, povo criativo, grande parque industrial, bastante investimento estrangeiro, pobreza, violência e corrupção”. Em seguida, sustenta que os problemas sociais na Venezuela foram o “cenário perfeito para um salvador da pátria” e levaram à eleição de Hugo Chávez, uma “escolha eleitoral desastrosa para o país”, nas palavras da campanha tucana.
Mais à frente, ao apresentar Bolsonaro como o “salvador da pátria” da vez, a peça mostra o depoimento de uma refugiada venezuelana que afirma: “Não acreditem em salvador, atrás desse salvador o que existe é um diabo”.
“É muito triste ver o que um voto errado pode fazer com um país. Mais triste ainda é saber que, aqui no Brasil, o homem que deu início à destruição daquele país, Hugo Chávez, tem dois fãs bastante conhecidos”, diz uma apresentadora.
O programa, então, lembra uma declaração de Lula de que foi “grande amigo de Chávez” e uma entrevista de Bolsonaro ao jornal O Estado de S. Paulo, em 1999, em que o deputado afirmou que o ex-presidente venezuelano “é uma esperança para a América Latina e gostaria muito que esta filosofia chegasse ao Brasil”.
A estratégia de Geraldo Alckmin, para quem “o PT já está no segundo turno”, como declarou nesta quarta no fórum Amarelas ao Vivo, de VEJA, é tentar atrair os eleitores antipetistas de Jair Bolsonaro. Com 9% das intenções de voto no Datafolha — ante 28% de Bolsonaro e 16% de Haddad — Alckmin argumenta que, diante da rejeição do deputado federal, variável relevante na decisão de voto no segundo turno, o capitão reformado do Exército seria um “passaporte para a volta do PT”.
“Talvez esse seja um dos momentos mais delicados da nossa democracia, o risco de o Brasil se tornar uma nova Venezuela é real, a partir dos extremismos que estão colocados nessa eleição”, diz o próprio Alckmin.
O tucano classifica Bolsonaro como “um despreparado, que representa um verdadeiro salto no escuro” e afirma que o adversário “já demonstrou simpatia por ditadores, como Pinochet e Hugo Chávez, já defendeu o uso da tortura e acha normal que mulheres ganhem menos que os homens”.
Apresentando-se também como antipetista, o ex-governador de São Paulo diz que o PT “é a própria escuridão, sempre radical e extremista”. “O partido que apoia o regime ditatorial que levou a Venezuela ao desastre. O partido que quer o fim da Lava Jato, que foi envolvido no maior esquema de corrupção do mundo, o Petrolão. O partido que nos deixou o desastroso legado de Dilma e Temer”.
“São dois lados de uma mesma moeda, a do radicalismo, se qualquer um deles vence, o país perde”, conclui Geraldo Alckmin.
‘Prepare seu bolso’
A propaganda de Geraldo Alckmin a ser veiculada na noite desta quinta-feira também explora a declaração do economista Paulo Guedes, guru econômico de Jair Bolsonaro, de que pretende recriar um imposto aos moldes da CPMF, além de uma alíquota única de imposto de renda de 20% para pessoas físicas e jurídicas. As propostas foram reveladas pela Folha de S. Paulo ontem e foram feitas, segundo o jornal, a uma plateia restrita. O programa de Alckmin ainda se refere a Guedes como “banqueiro milionário”.
“Bolsonaro já disse ‘não entendo nada de economia’. Ele também já disse que quem vai comandar a economia é um banqueiro milionário, Paulo Guedes. O banqueiro já disse o que pretende fazer: menos imposto para os ricos, mais imposto para os pobres”, diz o programa. “Se Bolsonaro for eleito, prepare o seu bolso.”