Envolvido em enredo golpista, ex-chefe da Marinha presenteou líder de Lula
Almirante Almir Garnier enviou, em março, uma lembrança de aniversário para Jaques Wagner, ex-ministro da Defesa e representante do governo no Senado
O envolvimento do almirante Almir Garnier em uma suposta trama golpista para contestar as eleições de 2022 surpreendeu o senador Jaques Wagner, líder do governo Lula e ex-ministro da Defesa.
Os dois mantiveram uma relação próxima e amistosa em ao menos dois momentos de suas carreiras. O almirante comandou o 2º Distrito Naval, localizado na Bahia, base do petista, após ter servido como assessor especial do Ministério da Defesa, quando Wagner era ministro.
Nunca houve qualquer percepção negativa em relação ao almirante, disse o parlamentar baiano durante uma conversa na última semana. Ao contrário: ele se mostrava com um perfil tranquilo e inclusive afável. Tanto que em março deste ano, já durante o governo Lula e após os atentados do 8 de janeiro, Garnier chegou a enviar a Wagner um presente de aniversário. O regalo foi devidamente agradecido.
De acordo com o jornal O Globo e o portal UOL, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid disse à Polícia Federal que presenciou uma reunião entre Jair Bolsonaro e os três comandantes das Forças Armadas, em novembro do ano passado, na qual foi discutida a hipótese de um golpe militar para contestar a vitória de Lula. No encontro, segundo as publicações, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, demonstrou apoio à ação, que acabou freada pelo então comandante do Exército, Freire Gomes.
No meio militar, o almirante Garnier era descrito como o mais “fanático” dos generais em decorrência de seu ferrenho apoio a Bolsonaro. Em um ato inédito, ele se recusou a participar de qualquer reunião com o ministro da Defesa, José Múcio, durante o processo de transição de governo e sequer compareceu à posse do seu sucessor na Marinha, o almirante Marcos Sampaio Olsen – a ausência foi avisada dias antes, mostrando que não haveria nem espaço para diálogo enquanto ele fosse o comandante.
Dias após, deixando claro que o problema tinha nome e apelido, Garnier compareceu a um almoço na casa de Olsen, do qual participaram outros almirantes de peso e o ministro da Defesa, e, assim como fez com Jaques Wagner, entregou um presente a Múcio – uma garrafa de vodka.