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Governador autorizou central de grampos e dossiê contra adversário, diz PF

Afastado pelo STJ, Mauro Carlesse, do Tocantins, é apontado pelos investigadores como chefe de organização criminosa

Por Letícia Casado, Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 nov 2021, 10h29

Em 12 de março de 2020, o deputado federal Vicentinho Júnior (PL-TO) usou a tribuna da Câmara para dizer que estava sendo vítima de perseguição por parte de seu adversário político, o governador Mauro Carlesse (PSL). À época circulou um dossiê que incriminava o parlamentar, que então virou alvo de uma investigação da Polícia Civil do Estado. O congressista jurava  ser vítima de uma armação e que as acusações eram falsas. Um ano e meio depois, o caso do deputado foi um dos motivos que levaram ao afastamento do governador por 180 dias por determinação do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

VEJA teve acesso ao relatório da Polícia Federal sobre a investigação contra Carlesse. Os investigadores apontam que a cúpula do governo montou uma “central clandestina de grampos” na Polícia Civil do Tocantins e que há indícios de que o governador estava por trás do dossiê falso contra o deputado.

“Cheguei a fazer denúncias sobre as suspeitas de que meu telefone tinha sido grampeado e que havia grampos em minha residência e nos escritórios”, diz Vicentinho Júnior.

O relatório da PF aponta a existência de uma organização criminosa, sob o comando do Carlesse e de seu sobrinho, secretário de Parcerias e Investimentos, Claudinei Quaresemin. O ministro Campbell afastou não apenas o governador, mas também secretários — incluindo o da Segurança Pública, Cristiano Barbosa — e a cúpula da Polícia Civil do Estado.

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A investigação da PF mostra que o grupo atuou para desviar 44,8 milhões de reais da área da saúde e aparelhar a polícia local para evitar investigações contra aliados e perseguir adversários políticos. Os arapongas de Carlesse também armaram um flagrante de cocaína contra um inimigo do governador, como mostrou VEJA nesta semana.

Até surgir no círculo da alta sociedade tocantinense e entrar para a política local, Carlesse se apresentava como empresário de São Paulo. Em 2011 virou presidente do sindicato rural de Gurupi, no interior do Tocantins; no ano seguinte, concorreu à prefeitura, mas perdeu. Em 2014 ele foi eleito deputado estadual e em 2017 conquistou a presidência da Assembleia Legislativa. Estava à frente do cargo quando o então governador Marcelo Miranda (MDB) e a vice Cláudia Lelis (PV) foram cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em março de 2018, e então assumiu o governo interinamente. Concorreu ao governo naquele ano e, em outubro, foi eleito governador. Em 2019 Carlesse migrou para o PSL e assumiu a presidência do diretório estadual, de onde segue despachando.

O advogado do governador Carlesse, Juvenal Klayber, afirmou que a defesa só teve acesso aos autos do processo no STJ na quinta-feira da semana passada. “Vamos analisar os autos, com mais de 7 mil folhas, para depois nos pronunciarmos”, disse o advogado a VEJA.  Carlesse não quis comentar o processo.

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