Maia, Gilmar, Barroso, FHC, OAB, Doria e Witzel criticam ato com Bolsonaro
Autoridades repudiaram manifestação que, em meio a faixas pedindo fechando de Congresso e STF, teve discurso do presidente

A participação do presidente Jair Bolsonaro em um ato pró-intervenção militar em Brasília, neste domingo, 19, na qual se viam faixas pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), repercutiu negativamente entre a classe política e nos outros Poderes.
Além de contrariar o isolamento social e provocar aglomerações, duas das recomendações dos os órgãos de saúde internacionais, algo que já vem fazendo há semanas, o presidente discursou na manifestação. Do alto da caçamba de uma caminhonete, em um discurso entrecortado por acessos de tosse, ele não falou diretamente sobre a pandemia nem sobre sua intenção de flexibilizar o isolamento social, mas mandou recados como o de que “nós não queremos negociar nada”. Além disso, insinuou que personificava o fim da “velha política”, defendeu a obediência à “vontade do povo” e disse que fará “o que for possível para mudar o destino do Brasil”.
Principal alvo de Jair Bolsonaro e de sua militância nas redes sociais nos últimos dias, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou e repudiou a manifestação com a presença do chefe do Executivo. Por meio de sua conta no Twitter, Maia afirmou que, além do coronavírus, o Brasil está às voltas com o vírus do autoritarismo”.
O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição.
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) April 19, 2020
Representantes do Judiciário, ao menos dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestaram, também por meio da rede social.
Gilmar Mendes escreveu que invocar o Ato-Institucional Nº 5, que recrudesceu a repressão na ditadura militar, “é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática”. Luís Roberto Barroso tuitou que “pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso [intervenção militar e ditadura]”:
A crise do #coronavirus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática #DitaduraNuncaMais.
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) April 19, 2020
Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso.
— Luís Roberto Barroso (@LRobertoBarroso) April 19, 2020
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz foi outra autoridade do meio jurídico a repudiar o ato com a presença do presidente. Para ele, “a sorte da democracia brasileira está lançada”.
O presidente da república atravessou o Rubicão. A sorte da democracia brasileira está lançada, hora dos democratas se unirem, superando dificuldades e divergências, em nome do bem maior chamado LIBERDADE!
— Felipe Santa Cruz (@fsantacruz_rj) April 19, 2020
Entre antecessores de Bolsonaro no Palácio do Planalto, a ex-presidente Dilma Rousseff escreveu no Twitter que o atual mandatário “assume abertamente sua estratégia golpista, que busca implantar um governo ditatorial”, enquanto o ex-presidente Lula citou a Constituição como mecanismo para impedir o “esfacelamento da democracia” e o “genocídio da população”. O tucano Fernando Henrique Cardoso também tuitou, declarando ser “lamentável que o PR [presidente da República] adira a manifestações antidemocráticas”:
Enquanto o surto da Covid19 se acelera e aumentam as mortes no país, Bolsonaro assume abertamente a sua estratégia golpista, que busca implantar um governo ditatorial. Num ato na frente do QG do Exército em Brasília, atacou todos os Poderes da República e a democracia. (+)
— Dilma Rousseff (@dilmabr) April 19, 2020
A mesma Constituição que permite que um presidente seja eleito democraticamente têm mecanismos para impedir que ele conduza o país ao esfacelamento da democracia e a um genocídio da população.
— Lula (@LulaOficial) April 19, 2020
Lamentável que o Pr adira a manifestações antidemocráticas. É hora de união ao redor da Constituição contra toda ameaça à democracia. Ideal que deve unir civis e militares; ricos e pobres. Juntos pela liberdade e pelo Brasil.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) April 19, 2020
Os governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro, vistos por Jair Bolsonaro como rivais na disputa pela presidência em 2022 e atacados por ele desde o início da crise do coronavírus, engrossaram as críticas. Doria classificou a ida de Bolsonaro ao ato como “lamentável”, enquanto Witzel publicou que “democracia é respeitar o Congresso, as instituições e ter uma condizente com o cargo que se ocupa”:
Lamentável que o presidente da república apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5. Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua democracia🇧🇷
— João Doria (@jdoriajr) April 19, 2020
Democracia é ter responsabilidade com o que se fala. Democracia é respeitar o Congresso, as instituições e ter uma postura condizente com o cargo que se ocupa.
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) April 19, 2020