O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu uma declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que voltou a alfinetá-lo em uma entrevista à TV Bandeirantes ao avaliar seu governo e comentar a relação com o Congresso.
Ao negar ter qualquer problema com Maia, Bolsonaro afirmou que o presidente da Câmara “está um pouco abalado por questões pessoais que vêm acontecendo na vida dele”, disse, sem entrar em detalhes.
“Abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil”, rebateu Maia.
Na semana passada, o ex-ministro do governo de Michel Temer, Moreira Franco, padrasto da esposa de Maia, foi preso no âmbito da Operação Lava Jato.
Em outro momento da entrevista, Bolsonaro procurou contemporizar. “Na volta de Israel, com toda certeza, a gente vai se encontrar. A minha mão está sempre estendida para ele [Maia] e ele tem responsabilidade, assim como eu”, afirmou.
Após a declaração de Maia, Bolsonaro classificou como irresponsável a declaração do parlamentar fluminense quando disse que ele está “brincando de presidir o País”.
“Se foi isso mesmo que ele falou, eu lamento. Não é uma palavra de uma pessoa que conduz uma Casa. Muita irresponsabilidade”, disse Bolsonaro a emissoras de televisão após encontro com empresários e artistas na casa do fundador da Cyrela, Elie Horn.
“Não existe brincadeira da minha parte, muito pelo contrário, eu lamento palavras nesse sentido. Até quero não acreditar que ele tenha falado isso”, declarou.
‘Chega’
Na sequência, Maia fez um pedido para cessar a troca de farpas. “Faço um apelo ao presidente de que pare, chega”, disse Maia ao deixar a sessão do parlamento que aprovou projeto que permite divórcio imediato em caso de violência doméstica e debateu medida sobre partidos políticos.
“Que o presidente peça para o entorno parar de criticar; pare de criticar. Vamos governar. Eu a Câmara e ele, o país. Chega”, pediu. “É natural que quando se faz uma crítica tenha uma reação, mas vamos parar. Vamos cuidar do Brasil que está precisando; são 12 milhões de desempregados, não é brincadeira”, afirmou.
Ele ressaltou que com os embates quem mais perde é o país. “Eu acho que o Brasil perde, a bolsa tá caindo, a expectativa dos investidores está diminuindo”, disse.
“Daqui para frente, eu não respondo mais nenhuma gracinha, nenhuma insinuação nada”, disse. “O que a gente precisa é que ele trabalhe, o Brasil precisa da reforma”, afirmou. “Só vou ter uma pauta com vocês (imprensa) que é a Previdência”, disse ao deixar o Congresso.
Rusgas
A temperatura entre os dois está alta há uma semana. O bate-boca começou na quarta-feira 20, quando Maia recebeu mensagens do ministro da Justiça Sergio Moro durante a madrugada, segundo ele, pedindo urgência nas tramitações para a articulação da Reforma e também, com o mesmo grau de prioridade, do seu projeto anti-crime.
Maia cruzou os braços. Chamou Moro de funcionário do presidente que estaria confundindo as competências. Irritado, acrescentou ainda que o ex-chefe da Lava Jato “copiou e colou” a proposta feita por Alexandre Moraes, então ministro da Justiça do governo Michel Temer.
A partir daí, a mensagem repetida por Maia, que até então funcionava como principal articulador dos projetos, é que só voltaria a agir pelas tramitações depois que Bolsonaro se apresentasse para tratar da situação.
Já em viagem, Bolsonaro comparou o comportamento de Maia ao de uma namorada, que é preciso reconquistar. Ao que o deputado federal, depois de ter chegado a dizer que a página da disputa estava virada, respondeu: “Não preciso me encontrar com ninguém.”