O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, admitiu nesta quarta-feira, em entrevista à TV Globo, que foi convencido a tomar medidas para resguardar sua segurança e que se sente “mais à vontade” fora do Rio. As declarações foram dadas à emissora em Roma, após uma visita do magistrado ao Papa Francisco, no Vaticano.
“Se quiser ir à praia tenho que sair do Rio de Janeiro. É triste, mas a liberdade de um juiz, de um agente público que está nessa situação, é muito reduzida, para não dizer completamente eliminada. Não posso me dar alguns prazeres simples, como caminhar eventualmente numa praia, numa orla. No início eu relutava muito, recusava esse tipo de coisa, mas hoje em dia não mais”, afirmou Bretas, juiz responsável por 16 dos 17 processos abertos contra o ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB) na Lava Jato.
Em outubro, em um interrogatório diante de Marcelo Bretas, Cabral fez comentários sobre a família do magistrado, entendidos por Bretas como ameaças, que o levaram a autorizar transferência do ex-governador a um presídio de segurança máxima. O peemedebista também teria orquestrado, de dentro da cadeia, a produção de um dossiê sobre o juiz. No início de dezembro, Bretas publicou em sua conta no Twitter uma foto em que aparecia empunhando um fuzil, em um treinamento de segurança. Na entrevista à Globo, ele negou, no entanto, que tenha “paranoia” em relação ao assunto.
“Não tenho nenhum tipo de paranoia quanto a isso. Apenas sigo as orientações. Sou forçado a sair do local em que vivo para poder me sentir um pouco mais à vontade. Como aqui [Roma], onde posso andar na rua com tranquilidade”, disse.
Sobre a cada vez mais evidente reação política à Lava Jato, Marcelo Bretas disse que a investigação “sempre esteve e sempre estará” ameaçada e que seria “ingenuidade” acreditar no contrário. “Não podemos ser ingênuos de acreditar que, no meio de uma investigação que envolve algumas pessoas que têm autoridade, alguns agentes políticos e públicos, não vai ter algum tipo de resistência. É triste porque eventualmente tem-se a ideia de que alguns agentes públicos estão exercendo autoridades para se defender e não para legislar ou administrar em benefício da população e bem da sociedade”, declarou o juiz.
Questionado sobre as recentes decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente Gilmar Mendes, que derrubaram prisões preventivas decretadas na Lava Jato fluminense, Marcelo Bretas classificou como “naturais” os diferentes entendimentos entre as instâncias do Judiciário.
“É natural que no sistema do Poder Judiciário que haja decisões diferentes, o que importa é saber que a decisão judicial é uma só. A decisão de um juiz de primeira instância ela vale até que haja uma outra superior. No momento em que a superior confirma ou muda, esta passa a ser a decisão do Poder Judiciário. Não me cabe criticar uma decisão superior à minha, seja ela qual for porque não coincide com a minha, isso eu não posso fazer”, disse.
Para o magistrado, o mais importante é que não exista “sentimento de parcialidade” em relação a decisões judiciais.
Em seu rápido encontro com o Papa, Marcelo Bretas se apresentou como juiz no Rio de Janeiro, citou a luta contra a corrupção e agradeceu as declarações de Francisco em relação ao assunto. “Ele tem feito declarações muito oportunas, dirigidas inclusive aos brasileiros. Estamos entrando agora em eleições, um ano muito importante a todos nós. Então, a ideia também era pedir também para que ele mantenha essa pauta, esse tema”, afirmou o juiz à TV Globo.