Desde que o governo começou a negociar apoio no Congresso com os partidos do Centrão, uma das “noivas” mais cobiçadas é a diretoria do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). E não é por acaso. O órgão planeja e contrata as obras de manutenção e ampliação de rodovias federais. Em 2019, teve orçamento mirrado, de 6 bilhões de reais. Mas, na fase de vacas gordas, como em 2013, chegou a desembolsar 12,5 bilhões em investimentos. Daí o fato de ser uma das joias da coroa estatal.
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Clique e AssineNos últimos dias, VEJA ouviu de alguns parlamentares que “o Valdemar está salivando pelo DNIT”. Por Valdemar, entenda-se Valdemar Costa Neto, líder do PL e um dos expoentes do Centrão, como ficou conhecido o grupo formado por PL, PP, PTB, PSD e setores do DEM e MDB. São legendas de viés mais conservador nos costumes e liberal na economia, mas que podem participar de qualquer governo, independentemente da coloração ideológica, desde que tenha em troca cargos em estatais e em órgãos. Para quem não está lembrado, Costa Neto acabou condenado no esquema de corrupção do mensalão a mais de 7 anos de prisão. Já o PP, na época do já falecido José Janene e de Paulo Maluf, compuseram a base parlamentar do PT do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em troca de uma das diretorias da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa, primeiro delator da operação Lava Jato.
O frisson em relação à direção do DNIT foi intensificado nos últimos dias, depois que duas vagas foram abertas no órgão. O diretor-executivo, André Kuhn, foi nomeado presidente da Valec (empresa de engenharia ferroviária) e o diretor de Administração e Finanças, Márcio Medeiros, foi transferido para exercer a mesma função também na Valec. A dúvida, agora, é se Valdemar Costa Neto conseguirá seu intento, frente ao ministro de Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas, que tem o DNIT sob sua pasta. Questionado por VEJA sobre o caso, Freitas afirmou que indicações políticas estão fora de questão. “O próximo diretor-executivo já está escolhido. Será Euclides Souza, que hoje já é o diretor de Infraestrutura Rodoviária do DNIT”, disse.
Segundo o ministro, as mudanças no comando do DNIT já estavam programadas e ocorreram por causa da fusão da Valec com a EPL (Empresa de Planejamento Logístico), estatal também vinculada à pasta de Infraestrutura. Os dois diretores do DNIT, Kuhn e Medeiros, foram transferidos para a Valec para executar a fusão. “As duas vagas serão preenchidas por servidores de bom currículo e performance. Só depende de o Senado retomar as reuniões das comissões, que estão paradas por causa da pandemia, pois as nomeações do DNIT dependem de sabatina dos senadores”, explicou Freitas. O ministro afirmou também que não haverá troca do diretor-geral do órgão. O sinal é bom. Mas sempre convém esperar o desfecho, que, nesse caso, só ocorre com a publicação dos nomes dos diretores no Diário Oficial da União.
Por ironia do destino, Freitas foi uma das figuras-chave da “limpeza ética” promovida no DNIT a partir de 2011, quando a então presidente Dilma Rousseff despejou o partido de Costa Neto (na época, PR, o Partido da República) do ministério dos Transportes. No início do primeiro mandato, em 2011, a petista chegou a ultrapassar o pico de aprovação de todos os presidentes do período democrático, incluindo o antecessor e padrinho Luiz Inácio Lula da Silva. Tal aprovação foi alcançada, em grande parte, por causa da faxina iniciada pela ex-presidente, ainda que não concluída.
Em 2011, o atual ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, foi escalado pela petista, junto com um general (Jorge Fraxe) para realizar a limpeza no DNIT, após o despejo do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que era da mesma legenda de Costa Neto. Outro detalhe: a queda de Nascimento ocorreu em julho de 2011, depois que VEJA revelou um esquema de superfaturamento de obras em seu ministério, que se revertia, claro, em propinas pagas por empreiteiras.
Na época, a direção-geral do DNIT (que ficava sob o guarda-chuva do ministério dos Transportes) ficou com Fraxe, um general com experiência no comando do Batalhão de Obras do Exército, enquanto a direção-executiva ficou com Freitas, engenheiro, também egresso da área de obras do Exército, e que havia se tornado auditor de obras da Controladoria Geral da União (CGU). Quando Fraxe saiu, Freitas assumiu o comando do DNIT, onde permaneceu até 2015.