Candidato ao Senado pelo Paraná e atrás do ex-padrinho político Alvaro Dias (Podemos) nas pesquisas de intenção de voto, o ex-juiz Sergio Moro decidiu não receber, pelo menos por enquanto, doações privadas nas eleições de outubro. A trava financeira decorre principalmente do compromisso que o União Brasil, legenda a que se filiou na janela partidária e detentora do recorde de 758 milhões de reais de fundo eleitoral, fez junto ao filiado ilustre: o presidente do partido Luciano Bivar se comprometeu a repassar a Moro o limite legal de gastos para a campanha ao Senado. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma bolada de 4,4 milhões de reais.
Se a promessa for cumprida, Moro não vê motivos para passar o pires junto a potenciais doadores, já que qualquer excedente pode acarretar multa de 100% da quantia extra teto, além de processos por possível abuso de poder econômico. A exceção entre os doadores foi o empresário Ricardo Augusto Guerra, que compõe a chapa do ex-juiz como segundo suplente. Ele doou 9.000 reais à campanha. Até a última atualização da Justiça Eleitoral, na quarta-feira 24, Moro havia recebido 2,2 milhões de reais do União Brasil.
Não ter de procurar empresários em busca de contribuições financeiras para sua carreira política também tem um quê de simbolismo: na Operação Lava-Jato, que o tornou célebre em todo o país, doações de campanha eram justificativa corrente para parlamentares investigados tentarem explicar acusações de recebimento de propina e funcionava como uma pretensa blindagem contra delatores que, ao colaborarem com a justiça, afirmaram que doações legais de campanha, formalizadas junto à Justiça Eleitoral, na verdade eram um modo de corrupção a políticos.
Embora Sergio Moro tenha recebido a garantia de receber o teto possível para a campanha ao Senado, interlocutores do ex-juiz projetam uma corrida eleitoral “espartana”, já que os valores seriam facilmente consumidos em um estado que tem 399 municípios a serem potencialmente visitados pelo candidato. A cifra de 4,4 milhões de reais também é simbólica porque se aproxima dos 5 milhões de reais que o Podemos, seu antigo partido, havia sinalizado à sua campanha, não ao Senado mas à Presidência da República. Moro deixou os quadros da agremiação em março passado, menos de seis meses depois de ter se filiado à sigla, alegando falta de estrutura mínima para tocar a campanha. A edição de VEJA que chegou às bancas e plataformas digitais na sexta-feira, 26, mostra que havia um outro motivo, mais sério: suspeitas de corrupção.