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‘Não haverá traição’, diz próximo número 2 do Ministério da Saúde

General Eduardo Pazuello deve ter o nome oficializado até a próxima segunda-feira

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 abr 2020, 10h51 - Publicado em 21 abr 2020, 23h38

Comandante da 12ª Região Militar da Amazônia, o general Eduardo Pazuello recebeu uma ligação do presidente Jair Bolsonaro no domingo de Páscoa.  “Estou cogitando te trazer para cá”, sondou Bolsonaro. Um dia depois da demissão de Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, seu telefone tocou novamente: “É para vir”. Pazuello chegou a Brasília na segunda-feira e já nesta terça teve reuniões com Bolsonaro e com o novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele deve ocupar o cargo de secretário-executivo do ministério.

Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, classificou a convocatória a Brasília como uma missão e explicou como vem sendo o processo de transição no ministério em meio à crise do coronavírus. Alvo de críticas por ser mais um militar a integrar o governo Bolsonaro, Pazuello afirma que há muito desconhecimento sobre a atuação das Forças Armadas e nega ser uma eminência parda dentro da Saúde. “Eu sou milico. A gente não trai comandante. E o comandante é o ministro da Saúde, Nelson Teich”, afirmou.

Confira a íntegra da entrevista.

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O senhor já aceitou a função de secretário executivo do Ministério da Saúde? Não tem que aceitar nada. É missão. Eu sou comandante da 12ª Região Militar em Manaus, sou da ativa. E continuo comandante de tropa. Vim cumprir uma missão, que é auxiliar o novo ministro nessa transição e entrar com uma equipe forte para ele não ficar sozinho nesse momento. Estou indo como instituição, não como o Eduardo Pazuello.

Quando o senhor assume? Só quando for publicado. Deve ser na sexta ou na segunda-feira, não tem data exata. O que estamos fazendo são trâmites de equipe, levantando dados e definindo como funciona.  Estamos correndo atrás, mas será o mais breve possível. Mas só estou confirmado quando for nomeado. Posso dizer que esse é o processo.

Quem indicou o senhor? O presidente da República. Estou montando a equipe que vai entrar comigo. É uma equipe como a da Operação Acolhida, em Roraima [Pazuello foi comandante da operação que acolhe refugiados venezuelanos no Brasil].

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Qual o paralelo dessa missão com outras que o senhor esteve à frente? Todas as missões  em que se faz em apoio a um ministério, à segurança pública ou a um governo são a mesma coisa. Estamos cooperando com esses órgãos. Imagina: no meio da guerra, com o carro rodando, necessita fazer a troca do ministro e ele entra sozinho, tendo de encontrar um monte de gente para trabalhar e passar pelo processo seletivo.  Estamos, portanto, definindo o conjunto de pessoas e combinando com o ministro como se faz as substituições. Ao final de um período, o ministro estará com todos os nomes que ele escolheu e eu estarei saindo, voltando para a minha tropa.

Quando isso aconteceria? Não tem data. É o quanto precisar.

O senhor pode definir qual será a estratégia? A Covid-19 é uma das ações do Ministério da Saúde. Talvez seja hoje a principal, mas as outras continuam todos os dias. Nós vamos ajudar em todo o processo, focados principalmente na Covid-19.  Temos de lembrar que esse é um caso federal e envolve vários ministérios. O ministro define a estratégia, a gente planeja, trabalha as demandas, vai para o centro de coordenação de operações da Casa Civil e define lá as ações dos ministérios.

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De forma prática, o Brasil tem hoje problemas como falta de respiradores e de testagem. Como resolver? Isso é tudo em cima de estratégia, planejamento, distribuição e utilização das logísticas em infraestrutura de outros ministérios para apoiar. É botar a mão na massa. É relação, discussão, decisão, priorização e levar isso para a execução. Várias ações são coordenadas na Casa Civil. As pessoas demoram a entender que os militares têm capacidade para coordenar, e não só comandar. Trabalhar em equipe é característica dos militares, mas muita gente só nos vê como comandantes, como linha dura, como gente que não consegue flexibilizar as coisas.

O que motiva essa imagem? Faz parte pela falta de conhecimento, não é preconceito. Os militares são muito low profile, ficam nos quarteis. E quando sai para trabalhar é sempre assim.

Qual a gravidade do coronavírus? O meu grau de conhecimento específico, técnico, de médico, é leigo. A gente observa que dados precisam ser melhorados, a gente precisa ter números mais fidedignos, com menos risco de manipulação, para que se definam as estratégias em cima de dados reais. Se você não tiver certeza absoluta dos dados, tudo o que você planejar não tem resultado.

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Quais são as dúvidas quanto aos dados? Acho que todos os dados precisam ser checados. Isso é um trabalho constante. É muito prematuro dar uma resposta completa agora. Mas não posso dizer que há erros, porque sequer tive como constatar alguma coisa, nem comecei a análise mais aprofundada. Mas, para se construir estratégias, preciso de todos os dados em mãos.

O momento não exige mais velocidade? As estratégias já estão acontecendo. Você pode corrigi-las, e não defini-las. A parte técnica é do ministro da Saúde, eu sou executante. Só digo que os dados têm que ser confiáveis. Não quer dizer que haja alguma desconfiança. Estou falando de necessidade de equipamentos, de leitos e de confiabilidade desses dados. E eles vêm de prefeituras, da iniciativa privada, de hospitais estaduais, municipais… A gente precisa estar muito bem calçado para agir em cima de planejamento. Não é sobre número de contaminados, de óbitos. Isso o estado tem obrigação de passar e está passando. É o que envolve para decidir uma manobra e prioridades. Não tem a ver com mudar planejamento. Planejamento se faz no dia que começou a guerra. Agora, trata-se de conduta, de análise de dados em cima de números, de situação e de coisas que mudaram ao longo da crise.

Hoje o senhor almoçou com o presidente. Ele fez algum pedido especial? Não, nada. Ele veio, almoçou e foi embora. Não fez nenhum pedido especial. Ele veio ouvir e conhecer a nossa estratégia.

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O presidente quer flexibilizar a quarentena. A estratégia de vocês passa por isso? Eu ainda não tenho dados sobre isso. Comecei a entender o ministério ontem [segunda-feira]. Mas ressalto que essa decisão é do ministro.

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Há quem diga que o senhor seria uma espécie de eminência parda dentro do ministério. Eu sou milico. A gente não trai comandante. E o comandante é o ministro da Saúde, Nelson Teich. Tem que lembrar que se está falando com militar, e da ativa. É diferente. A gente o assessora e, decidindo a direção, é para lá que nós vamos. Não haverá nenhum processo paralelo lá dentro, não haverá traição.

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