O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que não se arrepende do vídeo exibido na quinta-feira, em cadeia nacional, com críticas indiretas ao governo do presidente Michel Temer (PMDB), e com uma autocrítica do próprio partido por “ter aceitado o fisiologismo”. A peça de dez minutos foi alvo de críticas alguns tucanos e intensificou a crise interna na legenda.
Ao ser questionado pela imprensa se considera que deveria ter exibido o programa aos correligionários antes da veiculação em cadela nacional, Tasso respondeu que não se arrepende “de nada” e que assume “total responsabilidade pelo programa”. As declarações foram feitas durante um evento em Fortaleza, com a presença do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Cotado como candidato à Presidência pelo partido, Doria foi um dos tucanos que ficou incomodado com a divulgação do vídeo.
Por se tratar de uma autocrítica do PSDB, Tasso declarou que “uma determinada polêmica” já era esperada. “À essa altura a polêmica é necessária, a discussão é necessária. Então é bom, porque desperta em todos posições diferentes, e eu acho que a população quer isso”, afirmou.
Sobre a possibilidade de ser destituído do cargo de vice-presidente da sigla, Tasso disse que, enquanto for presidente interino, dará orientação ao partido. “Se por acaso houver outra posição do partido também é natural”, disse o senador. “O partido não está rachado, não. Todos os partidos estão rachados por terem posições divergentes. Não tem pensamento único, pensamento único só no partido comunista.”
Racha
Três dos quatro ministros tucanos no governo Temer fizeram críticas duras ao programa veiculado pelo PSDB. Logo após a veiculação, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), divulgou nota na qual afirma que a peça “ofende fortemente” o partido. Segundo ele, o programa “apresenta colocações rasas, genéricas, e não teve a coragem de apontar os culpados pelos vícios e mazelas que o programa condenou.”
“A linha adotada no programa partidário ofende fortemente o PSDB, colocando o partido numa posição extremamente ruim e desconfortável, como se fosse o culpado por todos os problemas, inclusive aqueles criados por governos do PT, dos quais foi oposição”, escreveu Imbassahy.
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ministro tucano das Relações Exteriores, fez 38 publicações em sua conta no Twitter, nas quais critica o conteúdo do vídeo. Segundo ele, o programa é “um monumento à inépcia publicitária” e “a expressão de uma confusão política digna de figurar numa antologia do gênero”. “Em suma, esse programa não me representa. Não participei de sua concepção e em nenhum momento minha opinião foi demandada”, escreveu.
O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), também divulgou nota rebatendo as críticas de fisiologismo. Ele afirma que os parlamentares do partido têm votado “em ideias em que acreditam”. Para Araújo, a peça não é justa com a história do partido. “O programa não me representa.”
Segundo um interlocutor de Temer, o PSDB não poderia ter feito críticas ao governo porque comanda quatro ministérios importantes – é do partido também a pasta de Direitos Humanos. Ele sugeriu que a peça dá força ao discurso do Centrão — grupo de cerca de 150 deputados de partidos como PP, PR e PSD — que quer comandar o Ministério das Cidades.
(Com Estadão Conteúdo)