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Não pedi nada, diz dono da Havan após ser citado por Bolsonaro em reunião

Em encontro com ministros, presidente criticou o Iphan por ter paralisado obra da rede de lojas de Luciano Hang por causa de um ‘cocô petrificado de índio’

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 Maio 2020, 19h52 - Publicado em 25 Maio 2020, 19h10

O empresário catarinense Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamento Havan, afirmou a VEJA que não procurou Jair Bolsonaro para pedir liberação de obra paralisada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no Rio Grande do Sul. O presidente da República mencionou a paralisação da construção de uma unidade da rede na reunião ministerial de 22 de abril, que veio a público em vídeo na sexta-feira 22.

Bolsonaro criticou o presidente do Iphan por parar obras no Brasil. “O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra! O que que tem que fazer? Alguém do Iphan que resolva o assunto, né? É assim que nós temos que proceder”, disse o presidente na reunião.

A paralisação da construção da loja da Havan a que Bolsonaro se refere ocorreu em julho do ano passado, na cidade de Rio Grande, no litoral gaúcho. A consultoria contratada pela própria empresa paralisou a obra após encontrar fragmentos de cerâmica no local, que podem ser achados arqueológicos, conforme determina a lei. Informado da ocorrência, o Iphan paralisou a construção e deu prazo de até 60 dias para avaliar o material encontrado.

De acordo com Hang, a construção ficou paralisada por cerca de 40 dias. Iniciada em 1º de julho e suspensa no dia 19 do mesmo mês por causa das cerâmicas encontradas, a obra deveria ser finalizada em três meses. “O Iphan pediu até dois meses para avaliar os objetos, o que é um absurdo! Por isso fiz o vídeo e coloquei a boca no mundo. Em vez de pagar propina, em vez de me acovardar, abro meu canal, faço o vídeo e toco o pau”, afirmou o empresário.

Indagado como o presidente ficou sabendo do problema, Hang afirmou que Bolsonaro deve ter assistido ao vídeo que ele postou em suas redes sociais em agosto do ano passado, enquanto esperava parecer do órgão. “Não pedi nada ao presidente! Zero, zero! Ele deve ter visto nas minhas redes sociais. Eu sou ativista político, mas não peço favor para mim. Minha principal bandeira é a desburocratização, a redução da burocracia, que é a mãe da propina, da corrupção, do calvário de todo empresário brasileiro”, disse. “Ele estava falando (na reunião) sobre problemas da burocracia que travam a iniciativa privada e deve ter se lembrado. Só isso”, finalizou.

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Na época em que a obra da Havan foi paralisada, a presidente do Iphan era Kátia Bogéa, que dirigia o órgão desde 2016. Ela foi substituída por Luciana Feres, mas a nomeação da nova presidente foi revertida em menos de 24 horas. Formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, com doutorado pela Universidade de Massachusetts, Luciana foi vista como um avanço pelo setor, por ser considerada uma profissional do ramo, mas não chegou a assumir o órgão. A presidência do Iphan foi ocupada interinamente até 11 deste mês, quando Larissa Peixoto foi indicada. Seu nome recebeu críticas por não ser da área e pela pouca experiência. Larissa formou-se em turismo em 2008.

Segundo Hang, logo após resolver a questão do Iphan, a sua rede entrou em outro impasse com o departamento de estradas e rodagens do estado, que pediu que a Havan construísse um trevo de acesso a loja, que será localizada em uma rodovia estadual de grande circulação. A construção viária custaria 2,5 milhões de reais e 11 semáforos, muito acima do necessário, na avaliação do empresário. Ao final, a empresa chegou a um projeto viário de cerca de 600 mil reais com o órgão.

A construção da loja da Havan em Rio Grande está liberada pelo Iphan e pelo Daer (Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens), mas segue paralisada. Segundo Hang, a loja foi para o fim da fila, porque outras construções andaram mais rápido e a pandemia modificou o projeto de expansão da rede. Em vez de inaugurar vinte novos estabelecimentos este ano, a Havan deve inaugurar dez ou onze.

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