Não sou marionete, afirma Renan ao renunciar à liderança do PMDB
Em discurso na tribuna, senador diz que Temer tem uma ‘postura covarde’ na reforma trabalhista e volta a declarar que Cunha, mesmo preso, manda no governo
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deixou a liderança do PMDB no Senado atirando no seu alvo preferencial nos últimos dias: o presidente Michel Temer (PMDB), a quem acusou de ter “postura covarde” na reforma trabalhista e de ser tutelado pelo ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da prisão.
“Deixo a liderança do PMDB. Não seria jamais líder de papel, nem lideraria o PMDB contra trabalhadores e aposentados. Estou me libertando de uma âncora pesada e injusta. Permanecer na função seria ceder a um governo que trata o partido como um departamento do Poder Executivo e optou por massacrar os trabalhadores”, afirmou.
O senador, cuja saída já era prevista, tem feito oposição ao governo, principalmente em relação à reforma trabalhista – liderou nos bastidores a derrota de Temer na votação do projeto na Comissão de Assuntos Sociais do Senado na semana passada. “Não tenho a menor vocação para marionete. O governo não tem legitimidade para conduzir essas reformas complexas que, ao invés de resolver o problema, agravam”, disse.
Renan relembrou a gravação feita pelo delator Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, de conversa com o atual líder de Temer no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para relembrar acusação que já fizera em outras ocasiões: a de que Eduardo Cunha, preso desde outubro de 2016, manda no governo, mesmo estando preso em Curitiba pela Operação Lava Jato.
“Não tenho a menor vocação para marionete. O governo não tem legitimidade para conduzir essas reformas complexas que, ao invés de resolver o problema, agravam”
Renan Calheiros (PMDB-AL), senador
“Surgiu uma frase de Romero Jucá, que afirmou que o impeachment não saía porque eu, Renan, tinha certeza que o Eduardo Cunha mandaria no governo Michel Temer. Jucá disse que Eduardo Cunha estaria politicamente morto. Antes fosse assim. Foi um ledo engano. Eduardo Cunha permanece nomeando ministros, dando as ordens diretamente do presídio e apequenando um governo cuja República periclita nas suas mãos”, disse.
O senador afirmou que não tinha nenhum tipo de divergência com a bancada e que também não nutre nenhum ódio pessoal do presidente. “O que eu não tolero é sua postura covarde diante do desmonte da consolidação do trabalho [leis trabalhistas]”, afirmou.
“Grandeza”
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), outro cacique do partido, disse que a decisão de Renan mostrou “grandeza”. “Se ele estiver se sentindo incomodado na situação de liderar uma bancada que tem posições diferentes, ele está tendo a grandeza de pedir para sair exatamente para unificar a bancada”, afirmou.
Os mais cotados para a vaga de Renan são Jader Barbalho (PMDB-PA) – que já manifestou desinteresse em assumir o cargo – e Garibaldi Alves (PMDB-RN).