Nas mãos de Doria, PSDB ensaia rearticulação de aliança com DEM e MDB
Apoiado pelo governador de SP, Bruno Araújo é eleito presidente da legenda em evento com Jucá e Maia e acenos a um novo centro político com vistas a 2022
A convenção nacional do PSDB que confirmou nesta sexta-feira, 31, o ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo (PE) como presidente nacional do partido, foi marcada pela aclamação do governador de São Paulo, João Doria, como a nova liderança da legenda – ele foi recebido aos gritos de “presidente” – e pelos acenos de caciques do MDB e do DEM à busca por uma articulação visando a construir uma nova força política de centro.
Estavam presentes à convenção em Brasília o presidente nacional do MDB, o ex-senador e ex-ministro Romero Jucá, e o presidente da Câmara, deputado federal Rodrigo Maia, hoje a principal liderança nacional do DEM.
O PSDB, que ensaia uma reagrupação das três legendas, recebeu um forte aceno de Maia em relação à eleição presidencial de 2022. O presidente da Câmara disse desejar que DEM e PSDB estejam “fortes em um projeto único de geração de emprego e renda” daqui a três anos. Após o evento, ele negou que estivesse falando em fusão entre os dois partidos. “Isso envolve diálogo, como a gente vem fazendo, temos muitas convergências”, disse.
MDB (então PMDB) e DEM (então PFL) formaram com o PSDB a base de sustentação dos governos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso (1994 a 2002). A partir da derrota de José Serra para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2002, a aliança se desintegrou: o PMDB acabou se juntando posteriormente ao petista, enquanto o DEM e o PSDB foram para a oposição.
Nunca mais repetiram a tríplice aliança. Em 2006, o PFL esteve com Geraldo Alckmin (PSDB), com o vice José Jorge, e o MDB apoiou Lula informalmente. Em 2010 e 2014, o MDB formou chapa com Dilma Rousseff (PT), emplacando Michel Temer como vice. O DEM continuou com o PSDB, apoiando respectivamente Serra e Aécio Neves.
Na última eleição presidencial, o MDB lançou a candidatura própria de Henrique Meirelles, que foi um fiasco, assim como a nova tentativa eleitoral de Alckmin, de novo apoiado pelo DEM.
‘Amo meu país’
Doria parece ter entendido o momento. “Eu sou brasileiro e amo a minha pátria. Amo São Paulo, mas antes de amar São Paulo, amo meu país”, disse o governador, em uma fala repleta de acenos e elogios a Alckmin, de quem se tornou desafeto na eleição passada.
Doria defendeu a proposta de que o PSDB feche questão pela aprovação da reforma da Previdência, mas sem se alinhar ao governo. “Nunca defendi alinhamento com o governo Bolsonaro e continuo entendendo que o PSDB não deve fazer esse alinhamento, mas sim apoiar todas as boas iniciativas para o Brasil”, declarou.
Reportagem de VEJA desta semana mostra que o PSDB elege a nova cúpula com a missão de mudar a cara do partido. A sigla sofreu sua pior derrota nas eleições de 2018. Alckmin saiu da disputa no primeiro turno com melancólicos 4,7% dos votos. No Congresso, a bancada tucana na Câmara encolheu para 29 deputados federais, 25 a menos do que tinha em 2014 e inacreditáveis setenta a menos que em 1998.
Antecessor de Araújo na presidência do PSDB, Alckmin disse estar com sentimento de “dever cumprido”. Segundo ele, o código de ética e as novas regras de compliance elaborados pela direção da legenda darão “total transparência na gestão partidária”.
A convenção, no entanto, fez algum aceno ao deputado federal Aécio Neves, ex-presidente nacional da sigla e réu no Supremo Tribunal Federal por corrupção e obstrução de Justiça: seu aliado, o deputado federal Domingos Sávio, também de Minas Gerais, foi eleito vice-presidente do partido. Aécio não foi ao evento.