Não é difícil tentar enumerar quem seriam, em tese, os assessores mais influentes do presidente da República. Além da onipresente primeira-dama, Janja, os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Flávio Dino (Justiça) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação) certamente estão no topo dessa lista. Afinal, eles são responsáveis por áreas estratégicas do governo e alguns deles são chamados diariamente à sala do atual ocupante do Palácio do Planalto. Quem acompanha os bastidores do poder em Brasília, no entanto, garante que Marco Aurélio Santana Ribeiro, chefe de gabinete de Lula, supera todos eles — e de longe. Marcola, como é conhecido, é o único auxiliar do Planalto autorizado a entrar na sala do mandatário sem bater na porta — às vezes, ele até bate, mas por educação. Fora a liberdade, cuida da agenda, organiza os compromissos oficiais e extraoficiais, fiscaliza a logística, dá conselhos, faz relatórios, recebe parlamentares, se reúne com empresários e atende o celular usado pelo petista. Com raríssimas exceções (Janja incluída, claro), ninguém fala com Lula sem antes passar por ele.
A regra é conhecida por todos. Em fevereiro, por exemplo, quando o governo estava prestes a anunciar a reoneração dos combustíveis e havia dúvidas sobre a data em que a medida seria anunciada, era com Marcola que o Fernando Haddad falava mais de uma vez por dia para saber do andamento do processo dentro do Palácio do Planalto. No fatídico 8 de janeiro, foi ele quem avisou o presidente sobre os ataques e o colocou em contato com o ministro da Justiça para que fossem tomadas as primeiras providências. Marcola funciona como anteparo e também como uma espécie de redoma do presidente. “Se é um problema menor, ele tenta resolver. Se for mais complicado, tenta dirimir ao máximo para levar o assunto bem mastigado ao presidente. Em determinados casos, se não tiver como resolver, ele assume a culpa para poupar Lula de algum constrangimento ou saia justa”, conta um dos poucos amigos que o chefe de gabinete tem em Brasília.
Nas hostes petistas, Marcola é considerado um cristão-novo e, por isso, é alvo de comentários atravessados. Aos 37 anos, ele ocupa o posto que nas duas primeiras gestões de Lula pertenceu a Gilberto Carvalho, amigo do presidente há mais quatro décadas e um dos fundadores do PT. O atual chefe de gabinete se filiou ao partido em 2009, teve passagens por alguns gabinetes de políticos sem muita expressão e sua relação com o presidente começou em 2015. Ele trabalhava no Instituto Lula quando o chefe foi preso. Nesse período, mudou-se para Curitiba e organizou o famoso acampamento montado em frente à sede da Polícia Federal. Acabou se transformando no elo entre Lula e a militância. Sociólogo de formação, produzia análises políticas para o petista sobre o que se passava do lado de fora. Na contramão, divulgava mensagens do ex-presidente com impressões sobre o que acontecia do lado de dentro.
Há duas versões para a ascensão de Marcola a um cargo tão sensível e cobiçado. A oficial é de que Lula e o PT queriam dar ares de renovação ao governo, prestigiando novos militantes, sem vínculos com as gestões anteriores. A segunda, que não anula a primeira, atribui a escolha à influência da primeira-dama. Janja fazia parte do mesmo acampamento em Curitiba — época, aliás, em que ela e o presidente começaram a se relacionar. Discreto e avesso a entrevistas, Marcola ganhou a confiança de ambos. “Esse moleque é ótimo. Estou muito feliz que tenha sido escolhido para meu lugar no Palácio alguém tão competente”, disse Gilberto Carvalho a VEJA, atual secretário nacional de Economia Popular do Ministério do Trabalho.
Mas nem todos pensam assim. Segundo um importante dirigente do PT, Lula usa o seu chefe de gabinete, entre outras coisas, para se manter à distância de algumas situações e pessoas incômodas. “Eu, por exemplo, tento falar com o presidente desde a posse e não consigo. Me disseram para procurar esse menino, esse Marcola. Já liguei, falei que preciso conversar um minuto com o Lula e ele sequer retornou a ligação para dizer se o presidente vai me atender ou não”, reclama o dirigente, descarregando uma certa ira nas costas do chefe de gabinete, que ele inclui na categoria de “petistas recém-saídos da faculdade que acham que vão fazer a revolução”. Disciplinado, Marcola apenas segue de maneira diligente as orientações que lhe são repassadas. “Meu papel é ser zeloso na relação com as pessoas. Eu falo com todos, tento garantir que todos possam ter acesso ao presidente, mas nem sempre é possível”, disse a VEJA. Os interlocutores, mesmo os mais irados, desconfiam que a culpa não é do assessor.
Nova geração
A ascensão de Marcola no PT começou a partir de 2015, quando o então ex-presidente foi preso na Operação Lava-Jato
Publicado em VEJA de 3 de maio de 2023, edição nº 2839