No PSDB, Aécio é acusado de intervir em diretório do Acre
Assinatura eletrônica do mineiro consta em documento que afastou de comando regional deputado que é contra Temer e a favor de novo presidente para partido
Embora o senador Aécio Neves (PSDB-MG) esteja licenciado do cargo de presidente nacional do PSDB, sua assinatura aparece como a responsável por intervir no diretório acriano da sigla, interrompendo o mandato de um deputado federal adversário para colocar no poder um aliado seu. É o que acusa o parlamentar Major Rocha (AC), agora ex-presidente local da legenda.
No dia 11 de junho, um domingo, quando o senador ainda estava impedido de exercer suas atividades parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a Justiça Eleitoral recebeu uma alteração de todo o mandato da executiva do PSDB-AC. Foram destituídos Rocha e outros catorze dirigentes tucanos. Registrada no Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGIP), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a mudança foi feita com o nome de Aécio, quando o presidente oficial da legenda já era o interino, o senador Tasso Jereissati (CE).
A assessoria de imprensa do tucano, no entanto, informou que ele está afastado das funções partidárias. Já Major Rocha integra o grupo conhecido como “cabeças pretas”, ala do PSDB na Câmara que pede o desembarque do partido da base aliada do governo Temer. Ele também tem sido uma das vozes tucanas que pedem a convocação de uma convenção nacional para eleger um novo presidente para substituir Aécio.
‘Golpe’
Por causa disso, o deputado acriano acusa o senador mineiro de ter dado um “golpe” para beneficiar o ex-deputado federal Marcio Bittar (PSDB-AC), que almeja ser candidato a senador pelo partido em 2018.
“O que vivenciamos no partido, infelizmente, foi uma tentativa de golpe. Veja que nos dias 13 e 19 alguém entrou no site do TRE e simplesmente apagou a atual Executiva. No dia 19, tentaram inscrever outra Executiva. O que mais me chamou atenção foi que quem fez isso, segundo o TRE, foi o Aécio, alguém que está afastado da presidência. Informei o presidente, Tasso Jereissati, que ficou preocupado e tentou resolver esse problema”, disse o deputado federal a um site local.
Rocha se negou a comentar o assunto, mas ameaçou entrar com um mandado de segurança na Justiça. A situação fez com que a cúpula tucana agisse para controlar a crise interna. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), conseguiu evitar que o deputado levasse a situação à tribuna na semana passada.
Desempenho
Procurado, Márcio Bittar disse que o assunto é uma questão interna do PSDB e não tem relevância nacional. Ele argumentou que o mandato de Rocha tinha período de dois anos e expirou.
A justificativa oficial do partido para a interrupção do mandato de Major Rocha é o fraco desempenho do partido no Acre nas eleições de 2016. Isso porque, em janeiro de 2017, quando Aécio Neves aprovou a prorrogação do mandato de todas as Executivas, incluindo o seu, a direção do PSDB havia estabelecido metas de desempenho para o pleito terminado meses antes.
Pela resolução da legenda apenas os estados que tivessem atingido um desempenho mínimo poderiam ter os mandatos das Executivas prorrogados. Ao todo, seis não conseguiram atingir a meta de candidatos recomendada pela direção nacional. Os comandos dos cinco outros estados teriam conseguido negociar a extensão do mandato, e, portanto, somente o Acre teve sua Executiva destituída.
Procurado, João Almeida, diretor de Gestão Corporativa do PSDB, disse que foi ele quem usou login e senha de Aécio para alterar a composição da Diretório Estadual do Acre. Segundo ele, o login é cadastrado em nome do presidente do partido, por isso a assinatura de Aécio na movimentação realizada. Almeida ainda argumentou que o Acre não ultrapassou a linha de corte pelo desempenho nas eleições municipais do ano passado.
(Com Estadão Conteúdo)