O ambicioso projeto de Lira independentemente de quem ganhar a eleição
Presidente da Câmara tenta novo mandato de deputado para pavimentar manutenção de poder em Brasília – com Lula ou Bolsonaro
Em busca do quarto mandato de deputado federal, o todo-poderoso presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) trocou a luxuosa residência oficial onde mora em Brasília para se lançar pelas ruas de diferentes cidades de Alagoas, do sertão à capital. Com uma camisa polo, calça jeans e sapatos confortáveis, ele dança passinhos de funk e de arrocha, balança os dedos indicadores para cima – uma referência ao número 11, do seu partido -, e não economiza os abraços nos eleitores durante os atos eleitorais. Um esforço tremendo, para quem conhece o estilo mais sisudo do deputado alagoano.
A dedicação à campanha embute dois planos: garantir um novo mandato parlamentar e, assim, pavimentar o caminho para a reeleição ao comando da Câmara. A primeira meta parece mais simples de ser alcançada. Já a segunda passa por variáveis que podem dificultar o projeto.
Expoente do centrão, Lira conta com o apoio de Jair Bolsonaro para se reeleger – o presidente gravou um vídeo para a campanha no qual se refere ao deputado como “enorme parceiro nosso em muita coisa”. A Lira é creditado, por exemplo, o mérito pela redução no preço dos combustíveis e do aumento do valor do Auxílio Brasil. Em 2021, na disputa pela Presidência da Câmara, o alagoano também obteve o apoio de Bolsonaro e de seus aliados mais próximos, e é esperado que a parceria se repita no caso de uma eventual reeleição do presidente da República.
Aliados de Lira garantem que ele mantém o projeto de seguir no comando da Câmara mesmo se Bolsonaro perder e o ex-presidente Lula sair vitorioso nas urnas. Nesse caso, porém, mexem-se algumas peças, deixando o cenário mais incerto e complexo. É esperado que o PT aposte em um nome diferente para a presidência da Casa e pulverize as candidaturas – em 2021, a legenda se aliou ao MDB na disputa. Apesar de próximo a Bolsonaro, Lira jamais desfez pontes com a esquerda durante o seu mandato, reforçam interlocutores do presidente da Câmara. Além disso, ninguém nega que o centrão deve se dobrar a Lula – e vice-versa – em nome da governabilidade, e um acordo ser feito para a distribuição de cadeiras em ministérios e no Congresso.
A seu favor, Lira conta com a chave do cofre bilionário das emendas de relator – o chamado orçamento secreto, que Lula garante que vai acabar – para despejar a deputados até o início da próxima legislatura. Além disso, o deputado também tem em suas mãos uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU), disponível em razão da aposentadoria da ministra Ana Arraes e cuja indicação cabe à Câmara. No final de agosto, o deputado alagoano chegou a anunciar a sessão de votação para o sucessor da ministra Ana Arraes, mas acabou estrategicamente decidindo deixar o pleito para depois da eleição.
O anúncio do adiamento foi feito durante reuniões em separado com líderes da base e da oposição na residência oficial. Após o encontro, um deputado oposicionista disse a VEJA que o presidente da Câmara, que já prometeu a cadeira para pelo menos três parlamentares, deve usar a vaga no TCU para “compor” com a esquerda e garantir a reeleição no comando da Casa, no caso de uma vitória de Lula. À boca miúda, há quem diga até que o próprio Lira poderia admitir disputar a cadeira no TCU, abrindo espaço para algum outro nome se candidatar à presidência da Câmara – possibilidade que interlocutores do presidente tratam como “sem cogitação”.
Se o plano sair conforme o esperado, Lira deve alçar voos ainda mais altos nas próximas eleições. Em 2026, garante um importante colega do presidente da Câmara, ele deve cruzar a fronteira entre os salões do Congresso e tentar uma cadeira no Senado Federal.