Alçado à condição de maior partido da Câmara dos Deputados, com 82 parlamentares, o recém-anunciado União Brasil, resultado da fusão entre DEM e PSL, está longe de conseguir a coesão que estampa seu nome. Os três pré-candidatos a presidente pela legenda, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o presidente do Senado Rodrigo Pacheco e o apresentador de televisão José Luiz Datena tentam angariar apoios para se manter no páreo e poderem ser anunciados como representante da terceira via na corrida ao Palácio do Planalto. Não é tarefa simples e cada um deles tem planos próprios para chegar lá.
Mandetta foi elevado ao patamar de autoridade nacional ao ocupar a pasta da Saúde no início da pandemia e deixar o governo por se recusar, entre outras coisas, a manter comércios não essenciais em funcionamento enquanto o vírus se alastrava. Tem contatos políticos em diferentes partidos – do PSDB, para onde enviou seus auxiliares ao deixar o governo de Jair Bolsonaro, ao Podemos, sigla que tenta filiar o ex-juiz Sergio Moro mas que já flertou com o próprio ex-ministro em busca de uma parceria em 2022. Seu papel como primeiro timoneiro do governo no enfrentamento da Covid nunca se refletiu, porém, em dividendos eleitorais nas pesquisas de intenção de votos – nos melhores cenários ele não passa de 3%.
A VEJA ele admite que seu nome pode ficar fora do xadrez presidencial de 2022. “Há uma sinalização forte hoje para não apoiar nem Lula nem Bolsonaro, mas não é claro o caminho eleitoral que o União Brasil vai seguir. Um dos caminhos pode ser não lançar candidato a presidente e nos concentrarmos nas eleições de deputados e senadores. Eu mesmo posso não ser candidato a presidente”, diz. Nem mesmo a discussão de uma frente ampla em torno de um nome fora dos quadros do União está descartada. “A senha para sentar na mesa é declarar que quem ser apoiado tem que estar disposto a apoiar”, completa.
Melhor colocado entre os três pré-candidatos do partido, com até 11% das intenções de voto a depender do instituto de pesquisa, José Luiz Datena tem uma estratégia diferente para se viabilizar como o presidenciável do novo partido. Ele afirma concordar com a realização de prévias, nos moldes das do PSDB, para escolher quem será o candidato do partido ao Palácio do Planalto e diz estar disposto a se desfiliar da sigla se o que restar a ele for disputas ao governo de São Paulo ou ao Senado. “Eu aceito prévias contra Luiz Henrique Mandetta e Rodrigo Pacheco, porque sou um democrata. Posso participar e ganhar. Agora, se eu perder, não quero ficar e ser candidato nem a governador nem ao Senado porque tenho convites de outros partidos. Dessa fusão eu só saio candidato a presidente”, declarou às Páginas Amarelas de VEJA.
Presidente do Senado, o último e mais desconhecido dos pré-candidatos do União, Rodrigo Pacheco, tem feito um road show com empresários para se mostrar palatável ao setor produtivo e se aconselhado com nomes caros à Faria Lima, como Armínio Fraga, Delfim Netto, Everardo Maciel e o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Segue estacionado na casa de 1% de intenções de voto.
Apesar de tantos acenos e tentativas de aliança, a desunião no escrete do União Brasil é resultado principalmente da falta de um candidato natural e competitivo ao Palácio do Planalto. Diante de três nomes por ora pouco viáveis, a legenda teve de abrir diversos novos flancos de apostas eleitorais – há apoiadores de uma candidatura do ex-juiz Sergio Moro, de uma aliança com o PSDB em um eventual segundo turno, de acenos à candidatura do ex-governador Ciro Gomes (PDT) e de uma aliança com Jair Bolsonaro no turno suplementar para tentar derrotar o ex-presidente Lula. Para quem nasceu já com três presidenciáveis, o União Brasil corre o risco de acabar sem ter nenhum.