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O mistério do celular do delator

Dois telefones e um laptop poderiam comprovar a suposta parceria ilegal entre o advogado Nythalmar Dias e o juiz Marcelo Bretas

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 dez 2022, 18h20

A ascensão meteórica de um desconhecido advogado nunca foi bem digerida entre as bancas de defesa que cobram altos honorários para livrar políticos e empresários encrencados com a Lava-Jato. Em um primeiro momento, tratava-se, na pior das hipóteses, de uma disputa desleal entre bancas de advocacia por clientes que poderia levar o acusado, o jovem criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho, a perder o direito de exercer a profissão. Com o avanço da Operação Lava-Jato, porém, advogados, delatores e mais recentemente o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reuniram informações que sugerem que Nythalmar mantinha uma parceria ilegal com o juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e responsável pelo braço fluminense do escândalo do petrolão.

Um dos principais acervos que, segundo interlocutores, poderiam demonstrar essa suposta parceria do advogado com o juiz está reunido em dois celulares e um laptop de Nythalmar apreendidos pela Polícia Federal em 23 de outubro de 2020. Alvo, na época, de uma investigação por corrupção e suspeitas de exploração de prestígio junto a Bretas, Nythalmar sempre demonstrou apreensão pela sensibilidade dos dados que armazenava. Em um recurso sigiloso encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) no qual acusava o juiz e procuradores da Lava-Jato de ilegalidades, afirmou, por exemplo, temer pela “enorme quantidade de dados sensíveis em seus instrumentos de trabalho, cujo vazamento poderia desencadear consequências inimagináveis”.

Na briga que trava contra a Lava-Jato – o advogado fechou um acordo de delação premiada em que relata supostos abusos dos investigadores e de Marcelo Bretas – Nythalmar deu pistas de que o conteúdo dos dois telefones e do computador portátil tem potencial explosivo. Em um recurso sigiloso a que VEJA teve acesso, ele lista dados que estão armazenados nos aparelhos confiscados, como prints de mensagens de figurões como a ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo e o ex-deputado mensaleiro Pedro Corrêa, uma anotação com os dizeres “tentando cooptar” e rascunhos da delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

O episódio envolvendo os celulares e o laptop é emblemático porque é uma das peças de maior destaque do relatório parcial da correição que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promove contra Marcelo Bretas. O documento traz elementos que sugerem que o magistrado tinha aliados dentro do setor de perícias da Polícia Federal do Rio, que atuariam, por exemplo, para atrasar deliberadamente a análise de materiais colhidos em investigações que pudessem, de algum modo, respingar nele. Um dos dados de corroboração para esta tese seria a demora da PF exatamente em analisar os aparelhos. A suspeita das autoridades ligadas à correição é a de que a polícia colocou o material no fim da fila para que efetivamente nunca fosse periciado nem tivesse seu conteúdo divulgado. Procurado por VEJA, Bretas não quis se manifestar sobre a correição.

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