Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Os bastidores da demissão do procurador que enfrentou o PMDB-RJ

Leonardo Espíndola foi fritado pelo governador Luiz Fernando Pezão após não ajudar na nomeação irregular de um deputado para o Tribunal de Contas do Estado 

Por Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 19h19 - Publicado em 14 nov 2017, 21h55

O procurador-geral do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Espíndola, foi pressionado pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) a redigir um parecer favorável à nomeação irregular do deputado Edson Albertassi para o Tribunal de Contas do Estado. Hoje, Albertassi foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal na Operação Cadeia Velha, responsável por apurar o pagamento de propinas para a cúpula da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).  Se tivesse virado conselheiro do TCE antes da ação, Albertassi teria foro privilegiado diferenciado e seu caso não seria analisado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região – mas, sim, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no qual processos têm tramitado mais lentamente desde o início da Operação Lava Jato.

Os detalhes das pressões sofridas nos últimos dias foram relatados por Espíndola a cerca de cinquenta procuradores na manhã desta terça-feira. Ele, que foi chefe da Casa Civil entre 2015 e 2016, contou aos colegas que no dia 27 de setembro participou de reunião com Pezão e a atual presidente do TCE, Mariana Willeman (elevada ao posto em abril após a prisão de cinco conselheiros do tribunal). Em pauta, a nomeação de um substituto para o ex-presidente do TCE, Jonas Lopes, afastado da Corte ao se tornar delator de esquemas de corrupção envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB). Como Lopes acabara de requerer a própria aposentadoria, uma vaga definitiva seria aberta no tribunal naquela ocasião.

Na reunião com Pezão, Willeman e Espíndola explicaram que o correto seria a escolha de um auditor para a posição  – e não um parlamentar, como Picciani já começara a articular na Alerj. Hoje, dos sete cargos de conselheiros disponíveis, quatro são de indicação da Alerj e três do governador. Nas escolhas de responsabilidade do Executivo, uma deve contemplar um membro do Ministério Público do TCE, outra um auditor concursado e, a terceira, qualquer livre nomeação. Dois argumentos foram apresentados a Pezão: 1) Jonas Lopes fora indicado por um governador no passado, portanto a vaga em questão teria que ser do Executivo. 2) na última vez em que o chefe do Executivo nomeou alguém, escolhera membros do MP do TCE ou usou a prerrogativa de livre nomeação (ou seja, agora era a vez de um auditor). Pezão aceitou a explicação e pediu-lhes o envio de uma lista tríplice de auditores. Sete dias depois do encontro, a PGE, a pedido de Espíndola, concluiu um parecer de quinze páginas fundamentando juridicamente a escolha.

Desde a semana passada, às vésperas da operação de hoje, todo o combinado com o governador foi por água abaixo. Em 7 de novembro, os três auditores que concorreriam a uma vaga para o tribunal abdicaram da disputa surpreendentemente (hoje, a PF encontrou na casa de Albertassi a carta de desistência do trio). Na mesma data, sem conversar com o procurador Espíndola, Pezão enviou à Alerj a nomeação de Albertassi para o TCE.  Foi quando, sem pudores, Pezão começou a pressionar a PGE a esquecer o entendimento anterior. Na noite do dia 8, ele ligou para o seu procurador-geral ao lado de Albertassi: “Nosso conselheiro quer falar com você”, disse Pezão, segundo relato de Espíndola hoje aos colegas.

Continua após a publicidade

Sem qualquer cerimônia, o deputado estadual começou a clamar por um documento que legitimasse a sua nomeação para o TCE. Espíndola desconversou, mas a pressão continuou no dia seguinte. Através de mensagens via celular, Albertassi e Pezão continuaram com a sua encomenda de pareceres, sem conseguir, no entanto, dobrar o procurador. Até que, na sexta-feira (10), o PSOL conseguiu uma liminar na 9ª Vara de Fazenda suspendendo a nomeação de Albertassi. Foi quando a  temperatura subiu de vez em um telefonema de Pezão para Espíndola. O governador pedia mais uma vez a confecção de um parecer favorável ao seu aliado para apresentar como defesa na ação judicial dos psolistas. “O Albertassi está aflito”, disse Pezão. “O senhor tem que revogar a nomeação dele”, rebateu Espíndola. “Não posso fazer isso, como eu fico com a Assembleia?”, devolveu o peemedebista.

VEJA apurou que na própria sexta-feira, ao perceber que Espíndola não mudaria de posição, Pezão definiu que o demitiria. Ontem, por volta das 18h, em uma reunião de menos de dez minutos no Palácio Guanabara, o governador o comunicou da exoneração. “Não posso deixar sem defesa o líder do governo [posição de Albertassi na Alerj]”, justificou ao ex-homem de confiança. Hoje pela tarde, após a deflagração da Operação Cadeia Velha, Pezão soltou uma nota para a imprensa recuando da demissão de Espíndola. Já Albertassi anunciou que desistirá da vaga no TCE. Procurado, Espíndola não quis se manifestar sobre os novos movimentos de Pezão e Albertassi.

Na entrevista coletiva da Polícia Federal hoje, o procurador Carlos Alberto Gomes de Aguiar externou a posição do Ministério Público Federal sobre os movimentos feitos para colocar o deputado no TCE:  “Claro que nos causa espécie o fato de três servidores de carreira abrirem mão e, numa dinâmica de celeridade incomum, haver uma nomeação que foge dos critérios”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.