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Os bastidores das últimas cartadas de Witzel para escapar do impeachment

Governador do Rio de Janeiro se reaproxima de seu vice, aceita sugestão de presidente da Alerj, distribui cargos e acena para Jair Bolsonaro

Por Cássio Bruno Atualizado em 27 jul 2020, 19h15 - Publicado em 27 jul 2020, 19h08
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  • Na próxima quinta-feira, 30, termina o prazo para o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), apresentar a defesa contra o impeachment na Assembleia Legislativa (Alerj). Uma Comissão Especial de deputados estaduais analisa o afastamento de Witzel após denúncias de corrupção na área da Saúde. Em junho, 69 dos 70 parlamentares aprovaram o início do processo. Às vésperas de encerrar o prazo, o ex-juiz federal, eleito em 2018, tem apostado suas últimas fichas para salvar o mandato. Além de ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar barrar o rito de destituição, Witzel se reaproximou do vice-governador Cláudio Castro, demitiu secretários, está distribuindo cargos e até levantou a bandeira branca para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ex-aliado, com quem trocou acusações em público.

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    Na semana passada, Wilson Witzel trouxe de volta ao Palácio Guanabara o ex-deputado federal André Moura, demitido pelo governador, em 28 de maio, por pressão do advogado Lucas Tristão, amigo de Witzel, então homem forte do governo e, hoje, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. A exoneração de Moura, que tem bom trânsito na Assembleia, azedou ainda mais a relação de Witzel com os deputados. No auge da crise, o presidente da Casa, André Ceciliano (PT), acusou Tristão de fazer escutas telefônicas ilegais e produzir dossiês contra parlamentares. Acuado com a ameaça de impeachment, Witzel acabou sacrificando Tristão. À época, o ex-secretário deixou a pasta e negou irregularidades.

    Nos bastidores, o vice Cláudio Castro já se articulava, sem alarde, para assumir o governo, como revelou VEJA na edição de 26 de junho. No ápice das negociações, ele estreitou relações com Jair Bolsonaro por meio do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), de olho na futura gestão estadual depois da saída de Witzel. Nos últimos dias, porém, o vice-governador recuou e decidiu ajudar Witzel. Castro, então, conversou com André Ceciliano. Foi o presidente da Alerj quem sugeriu o retorno de André Moura. Em uma reunião a sós, o vice levou a proposta de Ceciliano para Witzel, que aceitou. Para convencer Castro à conciliação, Witzel prometeu turbinar o orçamento do Departamento de Estradas de Rodagens (DER), órgão ligado à vice-governadoria. O DER faz, por exemplo, a conservação e a construção de rodovias. Os serviços são cobiçados por políticos em ano eleitoral.

    Ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso na Operação Lava Jato, André Moura aceitou o convite para ocupar novamente a Casa Civil. Em troca do acordo para evitar o impeachment, Moura exigiu uma série de demissões, entre elas a de Cleiton Rodrigues, então secretário de Governo. Cleiton começou como chefe de gabinete de Witzel. Ex-auxiliar do ex-governador Anthony Garotinho e do ex-prefeito Cesar Maia, ele ganhou a confiança do governador e, consequentemente, poder dentro e fora do Guanabara. Era de sua responsabilidade, por exemplo, projetos importantes, como o Segurança Presente. Cleiton ficou conhecido do público ao aparecer filmando Witzel pelo celular quando o governador desembarcou de um helicóptero comemorando o fim de um sequestro de um ônibus na Ponte Rio-Niterói, em agosto do ano passado.

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    Cleiton Rodrigues soube pela imprensa do troca-troca. Ficou revoltado e não aceitou ser remanejado para o antigo cargo. Ele e André Moura nunca se bicaram. Com a chegada de Moura, o jornalista Mário Marques, que comandava a Comunicação Social, também deixou o governo nesta segunda-feira, 27. Assim, a secretaria de Governo e a Comunicação, agora, são conduzidas pelo supersecretário André Moura.

    “Nas redes sociais, remodelamos o conceito, a forma e as plataformas. Na assessoria de imprensa, com time incorporado, tratamos a relação com a imprensa de forma mais estratégica, respeitosa e estreita, sem pisar nas linhas amigas em nenhum momento sob qualquer circunstância. Investimos nas relações com rádios e TVs do interior. Na publicidade, emprestamos transparência, honestidade, cuidado com o dinheiro público e pronto atendimento. Fizemos apenas duas campanhas durante a pandemia, de R$ 2 milhões e R$ 3 milhões, respectivamente”, escreveu Mário Marques em um texto de despedida.

    O clima no Palácio Guanabara entre servidores e colaboradores é tenso. Na Alerj, deputados ouvidos por VEJA acreditam que a volta de André Moura não salvará Witzel do impeachment. O governador foi alvo ainda da Operação Placebo, ação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal que vinculou o governador a fraudes na construção de hospitais de campanha para tratamento de pacientes com novo coronavírus. Witzel e a primeira-dama Helena são investigados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

    Em um pronunciamento, Witzel disse que quem deveria estar preso era Flávio Bolsonaro, ex-deputado estadual, por conta das investigações envolvendo seu ex-assessor na Alerj Fabrício Queiroz no esquema das rachadinhas – quando funcionários repassam ilegalmente parte do salário ao parlamentar. A declaração revoltou Jair Bolsonaro. Em entrevista a uma rádio, na semana passada, o governador mudou o tom e disse que o “momento é de união”. O discurso, no entanto, não colou.

    A gestão de Witzel também é o centro de duas outras operações contra corrupção: Mercadores do Caos e Favorito, que levou às prisões do empresário Mário Peixoto, principal fornecedor de mão-de-obra terceirizada do governo estadual, e a do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, entre outros suspeitos de desviarem dinheiro público em meio à pandemia de Covid-19.

    Depois de Wilson Witzel apresentar a defesa, a Comissão Especial terá mais cinco sessões para preparar e apresentar o relatório final. Só então o documento volta a ser apreciado no plenário, precisando de pelo menos 36 votos a favor para ser aprovado. Caso os deputados confirmem o impeachment após todo esse rito, o governador, inicialmente, ficará afastado por 180 dias. Neste período, será criado uma Comissão Processante, com cinco deputados, cinco desembargadores sorteados e mais o presidente do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), Cláudio de Mello Tavares. Será este grupo que determinará ou não a cassação definitiva de Witzel.

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