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Áudios inéditos de entrevista a VEJA mostram contradições de Wajngarten

Trechos da gravação mostram que o ex-secretário omitiu e distorceu informações no depoimento à CPI da Pandemia

Por Policarpo Junior Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 Maio 2021, 10h10 - Publicado em 14 Maio 2021, 06h00
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  • Aguardado com muita expectativa na CPI da Pandemia, o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência, o empresário Fabio Wajngarten, revelou-se um recuo desastroso (leia a reportagem completa). Para preservar Bolsonaro, ele omitiu informações, tentou negar o que havia dito em reportagem de capa de VEJA e comprometeu ainda mais o governo, como mostram trechos da gravação da entrevista (veja abaixo).

    À revista, Wajngarten havia declarado que “houve incompetência” e responsabilizou o Ministério da Saúde pelo atraso da imunização da população. Perguntando sobre as declarações dadas VEJA, ele alternou respostas. Disse que a incompetência era da burocracia da máquina pública. Depois, afirmou que não havia acusado nominalmente o ministro Pazuello, o que é verdade. Até que, sentindo-se acuado, passou a tentar reescrever o que declarara. Tal postura ocorreu diversas vezes, mas ficou clara num diálogo com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

    “O senhor confirma que de fato não passou a informação para a revista VEJA acerca da incompetência do ministro Pazuello?”, perguntou a parlamentar. “Jamais. Jamais adjetivei, rotulei, emiti opinião, até porque o meu contato com o ex-ministro Pazuello, conforme dito, foi de bom dia, boa tarde, boa noite. Nada além disso”, respondeu Wajngarten. A senadora, então, insistiu: “Ou seja, a manchete da revista VEJA, segundo a sua opinião, ela não é verdadeira?”. Com a resposta, o ex-secretário caiu na armadilha que ele mesmo ajudara a montar. “A manchete serve para vender a tiragem, a manchete serve para trazer audiência, a manchete serve para chamar a atenção, conforme a gente conhece”, declarou, insinuando que a revista havia inventado a declaração estampada na capa. VEJA, então, publicou em seu site o trecho da entrevista em que ele fala com ênfase da tal incompetência do Ministério da Saúde. O áudio foi levado à sessão pela senadora Leila Barros (PSB-DF). Foi demolidor para o depoente. Vários senadores pediram a sua prisão por mentir ao plenário.

    VEJA divulga abaixo os áudios principais trechos das conversas. Eles mostram os detalhes narrados pelo próprio Wajngarten de como ele se envolveu nas negociações com a Pfizer – na CPI, ele disse que não teve papel nenhum nas negociações — e revelam o que ele tentou esconder. No depoimento, o ex-secretário tentou se esquivar das acusações de que teria invadido competências de outros colegas de governo. Na entrevista, ele resume sua participação de maneira mais objetiva. Depois de receber a informação sobre a carta, o ex-secretário contou que ligou para ao presidente da empresa e, nas palavras dele, abriu “as portas do Palácio”. Na sequência da gravação, ele acrescenta que foram realizadas “infinitas reuniões” com os representantes da empresa, fala de prazos de entrega das vacinas, que ela seria entregue em boa quantidade e preços especiais (na CPI, ele falou em três encontros e fugiu das outras perguntas). CONFIRA OS PRINCIPAIS TRECHOS:

    DENTRO DO PALÁCIO

    ‘À medida que tinha se fechado as portas e não avançava no Ministério da Saúde, eu abri as portas do Palácio. E a gente fez infinitas reuniões, várias, várias, com o presidente da Pfizer. Eu fui o primeiro que vi a caixa, a tão falada caixa que segurava a menos 70 graus. Eu levei para o presidente ver. Eu expliquei que não era um bicho de sete cabeças’

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    AVAL DO PRESIDENTE

    ‘O presidente disse que compraria todas as vacinas desde que aprovadas pela Anvisa. O resto tudo é mau assessoramento e informação distorcida que levaram a ele. O presidente está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Chegou informação errada para o presidente da República. Nunca mandou eu parar de fazer nada, nunca’

     

    RIXA COM PAZUELLO

    ‘Nunca troquei mais do que um boa tarde. Seria leviano da minha parte falar dele. Nunca fiz nenhum ataque para ele, nunca falei nada dele, nunca nada dele. Aí me surge um marqueteiro chamado Markinhos Show, que resolve soltar notas em todos os jornalistas de Brasília para atacar tudo e todos’

     

    A NEGOCIAÇÃO

    ‘Eu tenho que dizer que era uma negociação dura, quadrada, mas eles encontraram em mim também um negociador preparado. E tudo que eu pedi eles enviaram esforços e disseram que fariam, anteciparam entregas, com quantidade e preço. Eles foram impecáveis comigo, impecáveis’

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    O PREÇO CAIU

    ‘Queria mais vacina no menor tempo possível, a maior quantidade no menor tempo possível. E dinheiro nunca faltou. E perto dos valores que foram ofertados aí, dez dólares a dose, que numa conversa rápida virou 9,60, 9,80, 9,60, 9,30, 9 e não sei quanto e até mesmo os dez. Israel pagou 30 para receber primeiro. Nada é mais caro do que uma vida.’

     

    INCOMPETÊNCIA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE 

    ‘Incompetência. Incompetência. Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando na negociação e você tem do outro lado um time pequeno, tímido, sem experiência, é sete a um’

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    O depoimento e a entrevista

    Algumas contradições entre o que o ex-secretário disse à CPI e a entrevista que concedeu a VEJA no mês passado

    INCOMPETÊNCIA DO MINISTÉRIO
    Wajngarten disse aos senadores que não havia usado a palavra incompetência para se referir à demora do Ministério da Saúde em comprar as vacinas da Pfizer.

    Na entrevista a VEJA, ao ser indagado sobre isso, o ex-secretário repete duas vezes: “Incompetência. Incompetência”

    NEGOCIAÇÃO COM A PFIZER
    O ex-secretário disse que não participou de negociações com a Pfizer.

    Na entrevista, ele conta que a negociação resultou até na redução do preço das doses. “Virou 9,60, 9,80, 9,60, 9,30, 9 e não sei quanto…”

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    REUNIÕES NO PLANALTO
    Wajngarten afirmou que houve apenas três reuniões entre ele a Pfizer e que o presidente “nada sabia”.

    Na entrevista, ele fala em “infinitas reuniões” — e tudo com o aval de Bolsonaro

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