Partido diz que Moro faz falsas acusações de corrupção para se promover
Podemos subiu o tom contra ex-presidenciável após reportagem de VEJA ter revelado a existência de uma auditoria interna na sigla
Legenda que abrigou o ex-juiz Sergio Moro por cerca de seis meses, o Podemos decidiu partir pra cima do ex-presidenciável e o acusou de promover falsas imputações de corrupção ao partido com o objetivo de se promover eleitoralmente. Moro, hoje filiado ao União Brasil, é candidato ao Senado pelo Paraná e enfrenta o senador e ex-padrinho político Alvaro Dias, que na mais recente pesquisa Ipec aparece 11 pontos à frente do ex-magistrado na briga pela única cadeira em disputa nas eleições. O racha entre Sergio Moro e o Podemos foi potencializado após VEJA revelar que uma auditoria contra correligionários pedida pelo próprio ex-juiz e, segundo ele, não levada adiante foi o motivo pelo qual decidiu deixar a sigla.
A apuração foi solicitada em fevereiro, após o ex-juiz ter recebido informações sobre a existência de um suposto esquema de captação ilegal de dinheiro que envolveria a cúpula do Podemos. Antigos funcionários do Podemos repassaram informações aos “canais do partido” segundo as quais haveria transações ilegais em prefeituras do estado de São Paulo, em contratos nas áreas de saúde, transporte e reciclagem de lixo. Em nota, o Podemos afirma que Moro é “mentiroso” e “irresponsável”, ameaça processar o ex-presidenciável por calúnia e argumenta que as acusações feitas à sigla teriam como objetivo final lhe garantir “algum tipo de vantagem eleitoral” no Paraná.
“É lamentável que uma pessoa que já foi admirada nacionalmente tenha descido ao nível de fazer ilações e se basear em supostos indícios, de cunho pessoal, para tentar se autopromover e obter algum tipo de vantagem eleitoral local, ferindo a credibilidade de pessoas e instituições. Com esse tipo de postura, poderá encerrar precocemente uma carreira política que ainda sequer deu seus primeiros passos, oficialmente”, afirma o partido. “Se Moro acusa de corrupção, é mentiroso e irresponsável. Inclusive já foi solicitado ao departamento jurídico do partido apuração de eventual crime de calúnia, por imputação de crime não comprovado. O resultado da auditoria é objetivo e conclui pela regularidade integral, sem qualquer prova contrária atestando expressamente que nenhuma prova de ilícito foi identificada”, declarou o Podemos.
A VEJA, Moro disse manter as acusações contra o partido. “O Podemos, se não tem nada a temer, deveria tornar público o relatório de auditoria ou entregá-lo ao Ministério Público. A auditoria que foi realizada a meu pedido não se mostrou conclusiva, pois foi interrompida após minha saída. Ela contém, sim, indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito envolvendo a cúpula do partido, especialmente de pessoas ligadas à presidente Renata Abreu”, disse ele. “Lamentável é perceber que as demais lideranças do Podemos, especialmente os seus senadores, nada fazem diante das graves apurações de corrupção identificadas e diante das mentiras que sua presidente insiste em contar. Afirmo e reafirmo: há indícios de crimes envolvendo diversos personagens do Podemos, que demandam apuração”, completou.
Em carta endereçada à presidente da legenda, o advogado Salim Saud Neto, cujo escritório foi contratado para fazer a auditoria, informou que “os trabalhos de apuração contratados não chegaram a concluir pela ocorrência de atos ilícitos, mas foram identificados pontos de atenção e oportunidades de melhoria para o Programa de Compliance do Podemos, cuja implementação ficou a cargo da executiva do partido, que recebeu tal orientação na apresentação de agosto”.