Pazuello: Bolsonaro esteve em reunião que decidiu por não intervir no AM
Ex-ministro voltou a falar no Senado após ser ouvido por cerca de sete horas na quarta
A CPI da Pandemia retomou nesta quinta-feira, 20, o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Depois de mais de sete horas de questionamentos na quarta-feira 19, a reunião da comissão teve de ser suspensa após o general da ativa passar mal e também devido às votações no plenário do Senado.
Perguntado no início do segundo dia de sessão sobre o colapso em Manaus, Pazuello afirmou que a secretaria estadual de Saúde do Amazonas não tinha como foco a preocupação com o acompanhamento do nível do oxigênio. O ex-ministro acrescentou que a empresa White Martins não se posicionou “de forma clara” quanto a suas reservas de oxigênio.
Sobre o TrateCov, aplicativo do Ministério da Saúde que recomendava cloroquina, o general afirmou que a plataforma foi idealizada pela médica Mayra Pinheiro para servir como uma “calculadora que facilita o diagnóstico”. Pazuello afirmou que a plataforma foi “hackeada” e tirada do ar. O general completou dizendo que o TrateCov acabou “descontinuado” após o suposto ataque e não foi usado por médico nenhum. O presidente da CPI, Omar Aziz, ironizou a resposta: “O hacker é tão bom que conseguiu colocar o programa em uma matéria extensa na TV Brasil”.
O ex-ministro, em resposta a um questionamento de Randolfe Rodrigues, disse que o pedido de intervenção federal na saúde do Amazonas feito por Eduardo Braga (PMDB-AL) não foi acatado por decisão de reunião interministerial com a presença do governador Wilson Lima (PSC) e do presidente Bolsonaro. Randolfe questionou se foi o presidente que decidiu, Pazuello respondeu apenas que “a decisão foi feita na reunião”. “Essa decisão [de intervir] não era minha. Foi levada ao conselho de ministros, o governador se apresentou, se justificou. Desculpa, quero retirar o termo, não é conselho de ministros, é reunião de ministros, com o presidente. O governador se explicou e foi decidido pela não intervenção”, afirmou o general.
No primeiro dia de audiência, o mais longevo titular da pasta durante a pandemia afirmou que nunca “recebeu ordens diretas pra nada” de Jair Bolsonaro e assumiu a autoria de todos os atos à frente do ministério. Disse ainda que respostas à Pfizer foram dadas ‘inúmeras vezes’ desde agosto de 2020, contrariando o depoimento do ex-presidente da farmacêutica no Brasil Carlos Murillo. O general negou que Bolsonaro tenha lhe dado ordens para desfazer um acordo com o Butantan pela CoronaVac, o que contradiz declaração do próprio presidente. Segundo ele, o governante teve apenas uma “reação política” a falas de João Doria, mas não formalizou qualquer ordem contra a vacina.
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Na avaliação do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), Pazuello se esquivou de algumas perguntas no primeiro dia. Omar opinou não ver necessidade de quebrar os sigilos do ex-ministro. Já o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmaram que o general mentiu várias vezes aos parlamentares, além de omitir informações.
Para Randolfe, as contradições do depoimento mostram que Pazuello terá de ser acareado com outros depoentes da CPI da Covid. Para Renan, o ex-ministro estava “fingindo responder” e negou as próprias declarações que fez anteriormente.
Em defesa do depoente, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que Pazuello respondeu a todas as perguntas e não se esquivou de questionamentos. Em sua opinião, nenhum dos depoentes da CPI, até agora, afirmou que houve interferência indevida do presidente Bolsonaro no Ministério da Saúde. Rogério acredita também que não houve mentiras nem contradições nas falas de Pazuello aos senadores.
Como o depoimento de Pazuello continuou nesta quinta, a audiência com Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, conhecida por ser defensora da cloroquina e pela alcunha ‘Capitã Cloroquna’, foi adiada para a próxima terça-feira, 25.
OUTROS DEPOIMENTOS
Pazuello é a oitava testemunha a ser ouvida na CPI, que apura ações e possíveis omissões do governo federal no enfrentamento da crise sanitária, bem como eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios. Já foram ouvidos os ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten, Carlos Murillo, representante da farmacêutica Pfizer e o ex-chanceler Ernesto Araújo.
(Com Agência Senado)