Além de concluir que não houve edição, a perícia da Polícia Federal que analisou a autenticidade das gravações entregues pelo empresário Joesley Batista à Procuradoria-Geral da República (PGR) acabou conseguindo esclarecer trechos que, antes, estavam incompreensíveis no diálogo entre ele e o presidente Michel Temer (PMDB).
Em um desses momentos, uma nova fala de Temer pode fortalecer a acusação feita por Joesley de que o presidente consentiu com o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em troca do silêncio do parlamentar. Em outro, Temer diz ao empresário que ele foi uma das “influências maiores” para a escolha de Henrique Meirelles como ministro da Fazenda.
Na transcrição feita pela perícia, quando falam sobre o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), Temer questiona se “o Lúcio” estava lá, em uma possível referência ao deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel que ainda não havia sido identificado no diálogo, ao que ouve a negativa do empresário.
Na sequência, quando já estariam discutindo a situação de Cunha, pouco depois de Joesley dizer “Todo mês”, interpretado pela PGR como referência a pagamentos mensais, Temer questiona, em trecho antes não decifrado: “E o Eduardo também?”, ao que Joesley confirma “também”. A expectativa é que o procurador-geral Rodrigo Janot o denuncie, com base nesta gravação, também por obstrução de Justiça, ao tentar impedir um investigado de colaborar com as investigações.
Outro diálogo que fica mais claro, a partir da melhora de som feita pelos softwares da PF, é o trecho em que Temer indicaria o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures como seu interlocutor. Loures foi flagrado recebendo, em um restaurante de São Paulo, uma mala com 500.000 reais repassados a ele por um representante da JBS. Segundo a delação de Joesley Batista, seria a primeira parcela de um total que, em nove meses, somaria 38 milhões de reais em propina, cujos destinatários seriam o ex-parlamentar e o presidente da República. Em troca, atuariam para um benefício em favor da empresa junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Foi essa a acusação que ensejou a denúncia contra Temer por corrupção passiva.
Na transcrição definitiva do áudio, Joesley questiona diretamente o presidente se o seu interlocutor “é o Rodrigo?”, uma referência a Loures. O presidente confirma, “o Rodrigo”, ao que o empresário assente: “então ótimo”. Em meio a um trecho que permanece, em parte, ininteligível, Temer diz uma frase que ainda não havia sido decifrada: “pode passar por meio dele, viu?”, antes de completar que o ex-deputado, que foi seu assessor direto, é da sua “mais estrita confiança”.
“Influências maiores”
Desde que a colaboração de Joesley veio a público, Temer vem, sucessivamente, procurando desmoralizá-lo. Primeiro, o chamou de “fanfarrão”, para justificar por que não acreditou que ele tivesse de fato subornado juízes e um procurador. No último pronunciamento, ironizou o fato de o dono do grupo JBS ter circulado pelo Brasil “de chapéu” (um boné), para não ser identificado.
A transcrição da Polícia Federal, no entanto, traz um novo trecho, em que ele e o empresário falam sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Entre a sua atuação como presidente do Banco Central, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a posse como o chefe da economia sob Temer, Meirelles exerceu o cargo de presidente do Conselho de Administração do grupo empresarial de Joesley. No diálogo gravado, o presidente diz que o empresário foi uma das “influências maiores” para que ele fosse escolhido para a função atual, uma das mais importantes de todo o governo.