Vencer candidatos petistas à Presidência da República no Nordeste tem sido uma missão impossível aos adversários desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva consolidou programas sociais de transferência de renda em seu governo, como o Bolsa Família, e lançou projetos específicos para a região, a exemplo da interminável transposição do Rio São Francisco. Com o PT fora do Palácio do Planalto há quatro anos e o poder nas mãos de seu maior rival, no entanto, a cidadela petista começa, aos poucos, a se tornar menos inóspita aos desafiantes do partido.
Em meio aos pagamentos do auxílio emergencial de 600 reais para conter os efeitos econômicos da pandemia de coronavírus, à busca por expandir o Bolsa Família e rebatizá-lo como Renda Brasil, além de viagens à região, incluindo inauguração de obras da transposição no Ceará, o presidente Jair Bolsonaro começa a reduzir a resistência dos nordestinos a seu nome.
Pesquisa exclusiva feita a VEJA pelo instituto Paraná Pesquisas entre os dias 18 e 21 de julho mostra que o Nordeste ainda é, com sobras, a região onde o governo Bolsonaro é menos aprovado e mais desaprovado. A dois anos da eleição, chamam a atenção, contudo, o salto no número de nordestinos que dizem aprovar a gestão federal e a queda entre os que a reprovam em relação ao levantamento anterior, feito entre 27 e 29 de abril.
Há três meses, 30,3% da população do Nordeste dizia aprovar o governo, número que passou a 39,4% em julho, avanço de 9,1 pontos porcentuais. Entre os que responderam que desaprovam o governo Bolsonaro, a proporção passou de 66,1% para 56,8%, recuo de 9,3 pontos. Assim, as variações na região foram superiores às da média em âmbito nacional, em que a aprovação foi de 44% para 47,1% e a desaprovação, de 51,7% a 48,1%. A margem de erro da pesquisa em relação ao Nordeste é de 4,5 pontos porcentuais, para mais ou para menos.
Em termos eleitorais, o levantamento mostra que Jair Bolsonaro ganhou corpo e amealhou votos nordestinos em todos os cenários testados de primeiro turno. Embora ombreie na pesquisa com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o presidente ainda tem muito chão até alcançar Lula, hoje inelegível pela Lei da Ficha Limpa, entre o eleitorado da região. No cenário que tem o petista entre os candidatos, Lula marca 34,1% da preferência no Nordeste (eram 38,4% em abril) e Bolsonaro tem 18,7% (eram 16,6%).
No cenário mais provável, em que o candidato do PT é Haddad e o ex-ministro Sergio Moro também está no páreo, o presidente aparece numericamente à frente, com 21,6% das intenções de voto (avanço de 4 pontos em relação a abril), enquanto o petista varia 0,5 ponto para cima e tem 20,3%. Os dois estão empatados tecnicamente com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), cuja base eleitoral é o Ceará, que caiu dois pontos e tem 18,7% da preferência. Moro recuou 2,7 pontos e tem 11,5%.
Em outro cenário, sem o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Fernando Haddad tem 21,2% da preferência dos nordestinos e supera numericamente Jair Bolsonaro, que avançou 1,1 ponto e chegou a 20,7%, enquanto Ciro, com recuo de 1,1 ponto, marca 20%. Muito conhecido em função dos vinte anos em horário nobre na TV Globo, o apresentador Luciano Huck vem em seguida, com 8,2%.
Norte e Centro Oeste lideram aprovação ao governo
O levantamento do Paraná Pesquisas mostra que o Sul deixou de ser o principal bastião do apoio bolsonarista no país e deu lugar ao eixo Norte-Centro-Oeste. Segundo a pesquisa exclusiva, os sulistas foram os únicos eleitores entre os quais a aprovação ao presidente caiu (de 50,5% em abril para 49,7% em julho) e a desaprovação cresceu (de 42% para 44,6%). No mesmo período, o percentual de eleitores do Norte e do Centro-Oeste que aprovam a gestão subiu de 48,7% para 53,6%, elevação de 4,9 pontos, e o número dos que desaprovam diminuiu 4,2 pontos, de 46,4% para 42,2%.
No Sudeste, cujos 64,7 milhões de eleitores correspondem a 43% do eleitorado nacional, a aprovação e a desaprovação ao governo Bolsonaro variaram pouco e se mantém o equilíbrio entre as duas posições. Os que aprovam foram de 48,7% para 48,9% e os que desaprovam passaram de 47,8% a 45,9%.