Entre os quatro alvos da Operação Spoofing, deflagrada na terça-feira 23, o que ostenta a biografia mais complicada é Walter Delgatti Neto, 30 anos, de Araraquara (SP). Conhecido como “Vermelho” por causa do cabelo e barba ruivos, Delgatti ostenta uma ficha com seis processos na Justiça paulista por crimes de estelionato, furto qualificado, apropriação indébita e tráfico de drogas, nos quais acumula duas condenações. Estelionatário clássico, de estilo fanfarrão, ele já foi flagrado também andando com documentos falsificados, a exemplo de uma carteira de estudante de medicina da USP e uma de delegado da Polícia Civil de São Paulo, que Vermelho dizia usar para “pegar a mulherada”.
Em sua conta no Facebook, tinha fotos com um “leque” de ao menos vinte notas de 100 dólares e com um fuzil em um clube de tiro nos Estados Unidos. Em uma das vezes em que acabou detido, disse que era investidor e tinha uma conta na Suíça. Poucos dias antes de ser preso pela PF, dirigia um Land Rover branco pelas ruas de Ribeirão Preto, onde passou a viver. A bordo do carrão, deixou pendurada em um posto de gasolina da cidade uma fatura de 200 reais. Alegou ao frentista que o cartão de crédito não estava funcionando. Nunca mais voltou. Dizia cursar por lá a faculdade de direito em tempo integral na Unaerp, motivo pelo qual não lhe sobrava tempo para trabalhar. Ele realmente estudou no local, mas sua matrícula está inativa. E não há curso de direito em tempo integral na instituição.
O advogado Luiz Gustavo Delgado, que representa Walter Delgatti Neto nas acusações da Operação Spoofing, afirmou que ele tem problemas psiquiátricos. Na quarta-feira 24, o defensor levou comida, um cobertor e remédios de uso controlado para seu cliente, detido na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Segundo o advogado, Vermelho prestou depoimento na terça-feira acompanhado por um defensor público. “Ele está atordoado.”
Com a Operação Spoofing, a Polícia Federal acredita ter puxado o fio da meada que pode levar à descoberta de uma organização criminosa especializada em invadir celulares e capturar informações em aplicativos de mensagens. As investigações mostraram que Walter Delgatti Neto, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira teriam invadido — através de um golpe simples — o celular do ministro da Justiça, Sergio Moro, e de pelo menos outras 1.000 pessoas, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, a deputada Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso, e o ministro da Economia, Paulo Guedes (neste caso, o ataque foi revelado por VEJA, depois que o número do ministro fez contato com o editor Thiago Bronzatto).
Com reportagem de Laryssa Borges, Leandro Resende, Fernando Molica, André Lopes, Edoardo Ghirotto, Eduardo Gonçalves, Jennifer Ann Thomas e Luiz Castro
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