Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Querem um terceiro turno de 2018, diz governador de SC sobre impeachment

Carlos Moisés (PSL) nega crimes de responsabilidade no governo e se vê como alvo de uma articulação de adversários e empresários com interesses 'espúrios'

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 set 2020, 15h52 - Publicado em 15 set 2020, 15h33

Alvo de dois processos de impeachment – um deles com votações decisivas nos próximos dias –, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), atribui a abertura das ações de cassação contra ele a articulações do grupo político de seus antecessores e de empresários que tinham “relacionamentos espúrios” no governo. Em um dos processos, o mais adiantado, ele é acusado de dar aumento de maneira ilegal a procuradores do Estado, equiparando os salários aos dos procuradores do Legislativo. O outro trata da compra de 200 respiradores com pagamento adiantado de 33 milhões de reais, que não foram entregues ao estado, e de ilegalidades na contratação de um hospital de campanha.

Em entrevista a VEJA, Moisés se diz inocente das acusações de crime de responsabilidade na Assembleia Legislativa (Alesc) e rechaça envolvimento em irregularidades com dinheiro para combater a pandemia do coronavírus, investigadas no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O governador ainda isenta de qualquer responsabilidade a vice-governadora, Daniela Reinehr, também alvo dos processos de impeachment, faz acenos ao presidente Jair Bolsonaro, seu possível correligionário no PSL, e admite montar um governo de coalizão no estado.

O senhor tem negado as irregularidades de que é acusado no processo de impeachment mais adiantado, sobre aumento supostamente irregular a procuradores do Estado. A que atribui a abertura da apuração contra o senhor e a vice? Estamos sofrendo um processo extremamente injusto. O mesmo grupo que governou esse estado por décadas tenta um terceiro turno, retirar o governador e a vice-governadora. Os processos são seletivos. Tivemos uma meia dúzia ou mais de processos que tinham como alvo só o governador, e esses nunca prosperaram. Os que tem governador e vice foram à frente. A gente percebe que há uma vontade de retirada dos dois, para fazer uma sucessão de governo, a ideia é de virada de mesa. Não há justa causa no processo, ele é absurdo, o governador não tem digital alguma, muito menos a vice-governadora.

“O mesmo grupo que governou esse estado por décadas tenta um terceiro turno, retirar o governador e a vice-governadora”

Continua após a publicidade

Quem está por trás dessa suposta articulação? Quando assumi o governo, pagávamos 980.000 reais por mês de telefonia, fizemos um novo contato de 250.000 por mês. No contrato do oxigênio para uso medicinal, compramos o mesmo volume pela metade do preço. Estabelecemos o pregão eletrônico no governo. Foi uma ação dessa atrás da outra, que mexeram com muitos interesses e deixaram pessoas desconfortáveis, eram estruturas de governo. Assustamos muito essas estruturas, esses empresários que tinham relacionamentos espúrios com o governo. Talvez essa seja a grande motivação, estamos pagando por nossos acertos e não pelos nossos erros.

Seus adversários veem o impeachment como muito provável. O senhor conta com quantos votos hoje na Assembleia? Obviamente não expomos parlamentares nem fazemos contas, mas estamos construindo, todo dia se constrói, até porque todo dia tem uma novidade. A gente alimenta diariamente essa construção política de trazer para próximo do governo e mostrar aos parlamentares a injustiça. Nós temos convicção de que vamos superar a crise.

E em relação ao outro processo de impeachment, sobre compra de respiradores e da contratação de um hospital de campanha, que também são alvo de um inquérito no STJ? O estado foi vítima de uma fraude. Quem ofereceu o produto ao estado não garantiu a entrega. Quando o governador é citado por um terceiro, o processo sobe ao STJ, mas esse terceiro negou qualquer relação com o governo e com qualquer agente do governo. O governador não participa do processo de compra, estou tranquilo. Tão logo eu soube que alguém havia prometido algo e não honrou, não entregou, determinei que fosse aberto uma sindicância dentro da Saúde e acionei a polícia quando soube que houve pagamento antecipado, com risco de o estado estar sendo vítima de uma fraude. A compra foi feita por 33 milhões, já recuperamos 14 milhões, faltam 19. A Receita doou ao estado 50 respiradores dessa empresa e ela ainda deve 200. Todas as ações possíveis, a busca de repatriar dinheiro, estamos fazendo.

Continua após a publicidade

Mas o senhor teve um ex-secretário da Casa Civil, Douglas Borba, preso nessas investigações. O Ministério Público terá que dar seguimento a esse processo, que está no STJ pelo fato de ter aparecido a citação à palavra “governador”. E, se for o caso, oferecer as denúncias, porque há pessoas que tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça.  E aí a responsabilidade de cada um deve ser comprovada pelo órgão fiscalizador, não cabe a mim dizer, até porque não atuei nesse processo.

O senhor não põe a mão no fogo por ninguém, então? Não se trata disso, mas de aguardar que a Justiça se pronuncie. Eu tenho muito cuidado com julgamentos prévios. As investigações têm que ser concluídas e, se for o caso, oferecidas as denúncias para que os responsáveis sejam responsabilizados. Uma das nossas ações foi, doa a quem doer, acionar a polícia, que começou as investigações por determinação do governador.

O senhor tem apresentado um parecer do ex-ministro do STF Cézar Peluso contra o impeachment para convencer deputados a votarem contra. Quanto custou esse parecer e quem pagou? Esse é um papel em que eu não me envolvi. Fui estimulado a pedir o parecer porque os advogados de defesa consideram o ministro de muita relevância e conhecedor do direito. Não sei valores exatos, não foi o governo nem o governador que pagou, isso está vinculado a um movimento do partido, que defende o seu governador. Você acaba sendo um patrimônio político, a defesa do governo, é muito natural que isso aconteça.

Continua após a publicidade

O senhor e a vice, Daniela Reinehr, romperam no ano passado, mas o senhor classifica a inclusão dela nas ações de impeachment como “ultrajante”. O risco de cassação ajudou a restabelecer a relação entre vocês? Talvez essa questão tenha sido momentânea por uma divergência de ideias, que acontece em todos os ambientes políticos. Ela e eu entendemos que a injustiça que está sendo perpetrada é contra os dois. Essa ação visa trocar o governo, então obviamente que nos aproxima ainda mais, porque há uma convergência de interesses. Eu reitero o que disse: se absolutamente não há responsabilidade do governador, muito menos da vice-governadora, é ultrajante sim e agride qualquer razão mediana jurídica. É muito forçoso querer responsabilizá-la para carregá-la a essa virada de mesa, essa tomada de poder, o terceiro turno das eleições de 2018.

Como o senhor vê o apoio do presidente Bolsonaro só à vice? Percebo que o presidente tem que se manter de fato resguardado de um processo desse, que é político, é muito difícil um presidente interferir pessoalmente. É absolutamente natural a condição de não interferir nesse processo. A defesa da vice-governadora e a aproximação que ela tem, até como papel institucional, tem sido acatada pelo relacionamento que ela tem com o governo federal. Isso é muito bom, nos aproxima ainda mais. Temos um governo com muitas semelhanças em relação a transparência, integridade. O relacionamento com o governo federal não sofreu nenhum arranhão. Em momento algum o governo federal faltou com seu compromisso de nos ajudar.

“Percebo que o presidente tem que se manter de fato resguardado de um processo desse, que é político, é muito difícil um presidente interferir pessoalmente”

Continua após a publicidade

O senhor se arrepende de ter rompido com Bolsonaro? Não tenho nenhum arrependimento, até porque nunca tivemos críticas ao papel do presidente, críticas diretas a ele. Talvez alguma divergência de ideia pontual. Então não há o que se arrepender, obviamente que a relação política agora reaproxima com a provável vinda do presidente ao PSL, isso está sendo construído. Eu penso que a aproximação partidária vai amalgamar ainda mais a relação do nosso estado com o governo federal.

O senhor foi eleito na onda bolsonarista, mas hoje conta com votos do PT para se salvar do impeachment e a líder do seu governo é do PDT. O senhor ainda se considera de direita? Eu nunca quis abordar a questão de direita e esquerda porque sempre trabalhei na linha da razoabilidade. A minha história foi totalmente fora da política, nunca fui de trabalhar com ideologias muito fortes e sempre fui uma pessoa muito conciliadora, então não mudaria meu jeito de ser. Não gosto da ideia de esquerda e direita, os extremos têm seus defeitos, suas radicalidades. Penso que o momento do país é de aproximar, reaproximar os brasileiros, há um ambiente muito ácido na política, muitas notícias falsas, muitos antagonismos. Fui eleito para ser governador de todos os catarinenses, e não um governador que vai deixar de atender o segmento ou o partido A, B ou C.

Continua após a publicidade

“Eu nunca quis abordar a questão de direita e esquerda porque sempre trabalhei na linha da razoabilidade. A minha história foi totalmente fora da política”

Mas há uma diferença entre ser “governador de todos” e governar com a esquerda, com uma líder de esquerda, mesmo tendo sido eleito pelo eleitor mais à direita, não? Não, porque separamos muito bem as tarefas. O governo é o governo e a líder do governo é a que faz a comunicação da vontade do governo ao Parlamento, facilita o diálogo com os parlamentares. A figura feminina também me agrada muito, tenho muitas mulheres no governo.

A articulação política foi seu principal erro à frente do governo? Nós começamos um governo sem dividir cargos públicos e alinhamos com nossos deputados para que participassem das entregas do governo, isso funcionou muito bem em 2019. Em 2020, queríamos repetir esse modelo e veio a pandemia, que nos afastou a todos. Houve um distanciamento natural, não tínhamos certeza se iríamos pagar emendas, se a gente iria continuar executando obras prometidas às comunidades representadas pelos deputados. Por outro lado, tínhamos um jeito de governar com o primeiro escalão técnico. Entendemos que, para distensionar esse processo político, é preciso aproximar a representatividade do parlamento ao governo, isso acontece em todas as democracias, governos de coalizão. Estamos abertos a fazer essa coalizão, não há nenhum problema, desde que as práticas sejam republicanas.

Que semelhanças o senhor vê entre a sua trajetória e a do governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel? Eu não conheço o que o governador sofre lá hoje, posso falar de Santa Catarina. E aqui o processo é de absoluta injustiça, tanto em relação a respiradores quanto à isonomia da equiparação dos procuradores. Não tenho condição de falar de outros estados, estamos focados na gestão da nossa crise, e essa eu tenho certeza que vamos vencer porque é um processo absolutamente injusto, é surreal, eu diria, o que acontece em Santa Catarina.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.