Raquel Dodge: Esquema criminoso no governo do RJ estava em andamento
Segundo procuradora-geral, medidas cautelares como a prisão preventiva do governador Pezão servem para se levantar informações sobre seu funcionamento
A procuradora-geral da República Raquel Dodge afirmou, em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, que a prisão preventiva do governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão e mais oito pessoas foi requerida à Justiça por suspeitas de que um esquema criminoso liderado pelo chefe do Executivo estava em andamento.
“A operação Lava Jato no RJ tem empreendido esforços enormes para conter o esquema criminoso que se instalou no estado e contou com a participação de autoridades públicas do governo anterior. É um esquema criminoso que ainda não cessou”, afirmou a procuradora-geral.
Segundo ela, os pedidos de prisão preventiva foram feitos em razão da “atualidade do esquema” e do fato de os suspeitos continuarem praticando esses crimes. O MPF também sustenta que Pezão não só continuou com o esquema iniciado pelo ex-governador Sergio Cabral, como também criou seu próprio.
De acordo com o Ministério Público Federal, o governador Pezão recebeu pagamentos em espécie que totalizavam o equivalente a 39 milhões de reais em valores atualizados, quantia que foi alvo de sequestro determinado pelo ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, para que os cofres públicos sejam ressarcidos.
“As medidas de hoje são parte das investigações em curso, que visam coligir os elementos que vão agregar certeza sobre como funciona o novo esquema que sucedeu o anterior”, explicou Raquel Dodge, ao ser questionada sobre detalhes como a localização de valores desviados. Segundo ela, foram identificadas a prática de três crimes: organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.
Ainda conforme a procuradora-geral, um dos crimes em curso é o de organização criminosa. “As informações coligidas são no sentido de que ela continua atuando especialmente em relação à lavagem de dinheiro, praticada após o crime de corrupção para ocultar o dinheiro desviado”, afirmou Dodge, ressaltando a facilidade que ocupantes de cargos públicos têm de dissimular valores desviados.
O governador Pezão foi preso preventivamente pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira, dentro do Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do executivo, em um desdobramento da operação Lava Jato. Outras oito pessoas, também ligadas a empresas que prestam serviço ao estado do RJ, foram alvos de prisão preventiva. O ministro Felix Fischer também autorizou buscas e apreensões em endereços ligados a onze pessoas físicas e jurídicas,
Pezão foi alvo de delação premiada de Carlos Miranda, suspeito de ser operador financeiro de esquemas de seu antecessor, Sergio Cabral, de quem foi vice-governador. O delator acusou o governador de receber mesadas de 150 mil reais entre 2007 a 2014, na época em que ele, então vice, era secretário de obras do governo estadual. Os repasses, segundo Miranda, continuaram após o governador assumir o estado.
A delação foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal e, segundo o MPF, as apurações começaram a partir de documentos apreendidos na casa de um dos investigados na Operação Calicute. Os investigadores analisaram provas documentais como dados bancários, telefônicos e fiscais.
Segundo o procurador Leonardo Freitas, que também participou da entrevista coletiva concedida por Raquel Dodge, a propina paga a Pezão teve origem principalmente na mesada operada por Miranda e repasses da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio (Fetranspor). “A organização criminosa se reinventou, com uma sucessão de pessoas exatamente nos postos que levaram à prisão lá atrás desse primeiro time, nesse primeiro momento dessa organização”, disse.