Em dezembro de 2016, a CPI do Futebol concluiu os trabalhos após um ano e cinco meses de investigação. Na época, os senadores aprovaram um relatório chapa branca de Romero Jucá (MDB-RR), que não pedia o indiciamento de dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), apesar de uma série de indícios de desvios que vieram à tona com a revelação de contratos e negociações escusas da entidade. O relatório de Jucá se limitava a apresentar “recomendações administrativas” à CBF, propondo projetos de lei para ajudar na saúde financeira dos clubes, entre outras coisas. O Ministério Público recebeu não apenas a versão de Jucá, mas também o relatório elaborado por Romário (PL-RJ), presidente da comissão, que defendia os indiciamentos de nove pessoas, entre elas o então chefe da CBF, Marco Polo del Nero, além dos ex-presidentes Ricardo Teixeira e José Maria Manin. O trio foi acusado de estelionato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. “Perdemos? Claro que não. Essa luta não acaba aqui”, afirmou o ex-jogador de futebol. Quatro anos e meio depois, a luta ressurgiu.
Toda a documentação da CPI — que incluía informações reunidas ao longo da investigação, como quebra de sigilo bancário e telefônico, contratos, recibos e e-mails — foi enviada à Procuradoria-Geral da República (PGR) em 9 de fevereiro de 2017, quando Rodrigo Janot era o chefe do Ministério Público. Depois de Janot, Raquel Dodge e Augusto Aras assumiram o cargo. Em ofício obtido por VEJA, endereçado o atual procurador-geral da República, Romário cobrou do MP que providencie “o devido andamento às conclusões da CPI do Futebol”, o que não ocorreu até agora.
“Fizemos um trabalho difícil, demorado e meticuloso, com a cooperação de diversos órgãos de fiscalização e controle federais e internacionais. Ao cabo, mesmo com a notória indisposição do então relator da CPI (Jucá, autor do relatório favorável aos dirigentes) em exercer a sua função de inquiridor, conseguimos montar uma equipe de investigação e colacionar um farto e consolidado conjunto probatório, obtido sobretudo com as transferências de sigilo e de informações”, escreveu Romário a Aras, em documento assinado em 30 de junho de 2021. Na época da CPI do Futebol, Romário e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apontaram um “boicote político” à comissão realizado pela “bancada da CBF”, com o objetivo de esvaziar sessões e barrar o avanço das investigações.
No documento enviado à PGR no mês passado, Romário frisou que é preciso investigar os fatos levantados pela comissão no atual cenário futebolístico do país. “Marco Polo del Nero, banido pela FIFA por corrupção e objeto de ordem internacional de prisão (difusão vermelha) por parte da Interpol, dá reiteradas e visíveis mostras de que ainda detém o comando real na entidade, tendo recentemente operado para derrubar Rogério Caboclo, seu ex-aliado, do comando da entidade”, observou o senador. “Del Nero conseguiu escapar e continua solto, abrigado pela impossibilidade de extradição e pela inação, até o momento, das instâncias judiciais nacionais.”
Enquanto o ex-jogador da Seleção Brasileira tenta resgatar o caso, a bola segue parada na PGR. Aras ainda não respondeu ao senador.