Chegou ao Palácio do Planalto o resultado de um levantamento que vai servir de munição para o presidente Jair Bolsonaro atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas de intenção de voto. O dado em questão mostra que 70% dos brasileiros afirmam que não contratariam um ex-presidiário para trabalhar em casa ou em sua empresa. Aliados de Bolsonaro pretendem colar o selo de “ex-presidiário” no petista como estratégia para resgatar os escândalos de corrupção que abalaram os governos Lula e Dilma Rousseff, como o mensalão e o petrolão. A lógica é a seguinte: se os brasileiros rejeitam um ex-presidiário como colega de trabalho ou funcionário de sua residência, estariam dispostos a eleger um para o cargo mais importante da República?
O roteiro traçado por bolsonaristas também prevê “resgatar” os episódios mais nebulosos do passado petista e associar a Lula a personagens controversos da legenda, como o ex-presidente nacional do PT José Dirceu, condenado no processo do mensalão e no âmbito da Lava-Jato. Bolsonaristas avaliam que a rejeição a Lula aumenta quando ele é vinculado a figuras como Dirceu e a ex-presidente Dilma Rousseff, ejetada do Palácio do Planalto após um turbulento processo de impeachment. O ressentimento contra a legenda de Lula já havia vindo à tona em uma pesquisa do DEM, feita no ano passado, que identificou forte rejeição à classe política, e ao PT em particular, principalmente entre eleitores de capitais brasileiras. Para eles, segue viva a memória dos escândalos de corrupção envolvendo a compra de votos de parlamentares e desvios de bilhões de reais em estatais.
Em entrevista a VEJA publicada em dezembro de 2021, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou de “presidiário” o ex-presidente da República repetidas vezes. “Temos pesquisas internas que mostram que o ex-presidiário Lula não atinge nem sequer 30% das intenções de voto no Nordeste”, afirmou, em referência a um obscuro instituto de pesquisa que diz o que os bolsonaristas querem ouvir. “Valdemar (Costa Neto, condenado no processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal) foi condenado por uma situação que lá atrás era corriqueira na política. Ele pagou por isso e hoje está quite com a Justiça. Não deve nada, não tem processos contra ele. É diferente do ex-presidiário Lula, que não pagou pelos seus crimes”, disse Flávio em outro momento. Lula passou 580 dias preso, mas viu suas condenações na Lava-Jato serem anuladas por decisão do ministro Edson Fachin, que acabou confirmada depois pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.