Witzel afirma ter feito doutorado em Harvard, mas isso não ocorreu
Em seu currículo, governador do Rio incluiu passagem na universidade norte-americana durante pós-graduação, mas UFF diz que ele nem fez o pedido para isso
O governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) afirma, em seu currículo, que fez parte de seu doutorado em ciência política sobre “judicialização da política” na Universidade de Harvard. Isso, no entanto, nunca aconteceu.
No Lattes, uma plataforma virtual que agrega bases de dados de currículos, grupos de pesquisa e instituições que atuam no Brasil, consta que Witzel, que iniciou seu doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2015, fez um “período sanduíche”, quando o aluno faz parte de seu curso em uma universidade internacional parceira da instituição de ensino onde estuda, no campus de Cambridge, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos.
A última edição de seu currículo na plataforma virtual foi feita no dia 8 de abril de 2016, um ano após iniciar o curso de pós-graduação. Na descrição do curso, Witzel afirma, ainda, que o seu orientador em Harvard foi Mark Tushnet. Professor de Harvard, Tushnet é um importante teórico da história do direito americano e do direito constitucional.
A UFF afirmou a VEJA que Witzel nem concorreu à bolsa. Para participar do “período sanduíche”, o aluno precisa passar por um processo seletivo e ser aprovado pela universidade. As inscrições para o período em Harvard estiveram abertas entre 2015 e 2018.
Inicialmente, a assessoria do governador informou que o registro na plataforma digital dizia respeito a uma intenção de Witzel no momento em que começou o doutorado, em 2015, quando ainda era juiz federal, e que será corrigida.
Em um segundo momento, o governo do estado afirmou, em nota enviada a VEJA, que “não há erro no Currículo Lattes do governador Wilson Witzel” – mesmo que não tenha, de fato, frequentado a universidade.
“Em seu projeto inicial de doutorado, ele incluiu a possibilidade de aprofundar os estudos em Harvard, projeto interrompido pela campanha ao governo do estado, em 2018, quando se encerram as inscrições para a universidade americana. Quando o governador iniciou o doutorado atuava como juiz federal e não tinha como prever que o projeto de estudar em Harvard poderia ser adiado em razão da eleição”, diz o documento.
Witzel tem até 31 de agosto para defender sua tese e concluir o curso. A rigor, o governador deveria ter concluído o doutorado em fevereiro, mas pediu à instituição uma prorrogação de seis meses – uma extensão de prazo que pode ser solicitada por qualquer aluno.
Lattes
Por conta do episódio envolvendo Witzel, a plataforma Lattes se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter. “Como eu tenho a intenção de falar grego no futuro , vou colocar no meu Lattes agora”, “vou colocar Hogwarts [Escola de Magia e Bruxaria dos filmes da franquia Harry Potter] no Lattes, tive o sonho de estudar lá” e “Já pensou uma Lava Lattes. Quantos não perderiam o emprego?” são algumas das publicações que satirizam o governador do Rio.
(Com Estadão Conteúdo)