No último encontro de preparação ao Sínodo da Amazônia, que acontece em outubro em Roma, cerca de 60 bispos se reuniram nesta quarta-feira, 28, num antigo convento em Belém, às margens das baías do Guajará e do Marajó. A reunião, que vai durar três dias, ocorre a portas fechadas e com reforço de segurança. Segundo os participantes, não serão discutidos assuntos políticos.
O Sínodo da Amazônia é uma resposta do papa Francisco às queimadas amazônicas. Segundo ele, “o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta.” O Sínodo será realizado no Vaticano entre os dias 6 e 27 de outubro.
Para os religiosos participantes, o governo brasileiro tem uma visão distorcida dos objetivos do Sínodo convocado pelo papa Francisco. “É uma ideia esdrúxula do governo sobre o Sínodo que não corresponde a nossa visão. Eles confundem soberania com pré-ocupação da Amazônia”, diz o bispo emérito do Xingu, d. Erwin Krautler. A inteligência brasileira, que responde aos militares, monitorou os preparativos e até a diplomacia foi acionada para levar insatisfação à Santa Sé. Eles acham que o Sínodo tem viés de esquerda e dará margem a ameaças à soberania brasileira.
Na recepção do antigo convento, uma viatura com três agentes armados da Guarda Municipal de Belém foi destacada para garantir a segurança dos religiosos. Nos três dias, eles vão estudar o documento principal que vai orientar as discussões no Sínodo. Esse texto foi preparado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica, após consultas a 87 mil pessoas dos nove países pelos quais a floresta amazônica se espalha. Ao final, pretendem divulgar uma nota.
Os 60 bispos se dividiram em oito grupos de discussão e devem entrar na manhã de hoje no trecho tratado por autoridades do governo brasileiro, principalmente os militares, como mais sensível à soberania nacional. O capítulo trata, entre outros temas, de corrupção, destruição ambiental e desrespeito a direitos dos povos originários, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. A Igreja tem feito campanha contra o desmatamento e a mineração na floresta. O texto, porém, não cita o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Inconformados com o tom dos organizadores do Sínodo, representantes de grupos conservadores ligados à Igreja Católica vão realizar nos dias 4 e 5 de outubro, também em Roma, um encontro para contestar a abordagem sobre a questão ambiental. Abaixo-assinado com 20 mil assinaturas colhidas na região amazônica será entregue à cúpula da Igreja e repete o discurso do governo ao falar em “inaceitável” atentado à soberania.
(Com Estadão Conteúdo)