Mais de 2 milhões de muçulmanos iniciam nesta sexta-feira, 9, o Hajj, que é a peregrinação anual à cidade sagrada Meca, no oeste da Arábia Saudita, que, segundo a tradição islâmica, todo muçulmano deve realizar a ida a Meca ao menos uma vez na vida, se tiver os meios necessários. Meca, cidade situada em um vale desértico, cujo acesso é proibido aos não muçulmanos, aloja a Kaaba, uma estrutura cúbica coberta por um tecido negro com bordados dourados no coração da Grande Mesquita. A tradição islâmica diz que o fiel deve, ao rezar, se posicionar na direção da estrutura.
“É um sentimento indescritível. É preciso vivenciar para entender”, afirma uma argelina de 50 anos que realiza o Hajj pela primeira vez. Gerenciar o fluxo ininterrupto de peregrinos e garantir sua segurança durante os quatro dias dos rituais em uma das maiores concentrações humanas religiosas do mundo, implica enorme desafio logístico para o reino árabe. Para evitar tragédias durante a peregrinação, que já sofreu pisoteamentos dramáticos no passado — como em 2015, quando 2.300 pessoas morreram —, foram mobilizadas milhares de membros das forças de segurança sauditas.
“Todas as instituições do Estado estão mobilizadas, e estamos orgulhosos de receber os ‘hóspedes de Deus'”, declarou o porta-voz das forças de segurança, Basam Atia. “Ao realizar o Hajj, a pessoa se sente purificada e conhece gente de todo o mundo. É algo grandioso”, afirma Mohamed Jaafar, um egípcio de 40 anos. Nesta sexta, os peregrinos participam da oração semanal na Grande Mesquita. Depois, homens e mulheres se dirigirão a Mina, perto de Meca, a pé, ou de ônibus fornecido pelas autoridades. Na época do Hajj, Mina, um estreito vale entre as montanhas rochosas, transforma-se em um imenso acampamento de tendas brancas que alojam os peregrinos. Este ano, foram montadas 350.000 tendas climatizadas, segundo as autoridades sauditas.
Distanciamento da política
Apesar das autoridades sauditas pedirem que o Hajj não seja politizado, ele será comemorado neste ano em meio a tensões crescentes na região do Golfo Pérsico que se iniciaram com a saída unilateral dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã junto da retomada da política de sanções contra Teerã. Como consequência, uma série de ataques contra petroleiros, derrubada de um drone americano e apreensões de navios entre maio e junho.
A Arábia Saudita e o Irã não possuem relações diplomáticas e se consideram inimigos, porém, as autoridades sauditas não impediram a entrada de iranianos para a realização do Hajj. Segundo a agência de notícias iraniana Tasnim, cerca de 88.550 iranianos participarão da peregrinação neste ano.
Com os vizinhos catares a história é parecida. A Arábia Saudita e o Catar romperam relações diplomáticas em 2017, e a crise causou restrições à entrada de fiéis catarianos no reino. Riad garante que o Hajj não será afetado por essa crise. “Muito poucos catarianos chegaram a Meca para peregrinação”, reconhece o chefe do ministério saudita para o Hajj, que acusou o “regime do Catar de politizar o ritual e colocar obstáculos para os peregrinos”.
(Com AFP)