A cor do DNA
Estudo conclui que os mesmos genes relacionados à pigmentação da pele estão presentes em brancos e negros, provando que só há uma “raça” — a humana
Não deixa de ser surpreendente que, em pleno século XXI, a cor da pele siga representando o que muitos consideram as diferentes “raças” — um conceito que dá margem às ondas de racismo que explodem de vez em quando. As teorias da genética há muito se empenham em contestar a ideia de que a cor da pele equivale à diferença racial, mas até agora não havia uma prova cabal. No último dia 12 de outubro, no entanto, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA) divulgaram, na prestigiada revista científica Science, constatações que finalmente ratificam as teses dos geneticistas modernos.
Ao analisarem o genoma de 1 570 africanos, cruzando-o com dados coletados de grupos europeus, os estudiosos concluíram que ambos os povos, o africano e o europeu, compartilham traços do DNA que tanto podem deixar a pele mais clara como mais escura. Em outras palavras, existem indivíduos de etnia branca com genes que tornam a cútis um pouco escura, e vice-versa. Além disso, esses genes teriam surgido na África há 900 000 anos, centenas de milênios antes de nossos antepassados mais próximos aparecerem por lá. Assim, prova-se, cientificamente, que pertencemos todos, negros e brancos, a uma mesma “raça”, diferenciando-nos por variações culturais, econômicas e sociais. E nada além disso.
“Quando se raspa o pelo de um chimpanzé, vê-se a pigmentação branca. Faz sentido que a cor dos antepassados do Homo sapiens tenha sido clara”, diz a geneticista americana Sarah Tishkoff, chefe da pesquisa. “É provável que, quando perdemos os pelos do corpo e nos mudamos das florestas para a savana, passamos a precisar de uma pele escura, resistente a raios solares. Daí que nos diferenciamos pela cor.”
A equipe de Sarah, entretanto, destaca que isso não pode ser visto de forma simplista. Uma extraordinária paleta de cores foi surgindo da mistura das etnias. Esse seria o motivo pelo qual as oito alterações genéticas identificadas com a cor da pele se mostraram presentes tanto em africanos como em europeus. Para a genética contemporânea, separar humanos de acordo com a cor da cútis seria o mesmo que dividi-los segundo a altura, definindo a partir daí a “raça” dos mais baixos e a “raça” dos mais altos.
Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2017, edição nº 2553