A semana começou com chuva e frio, mas nem isso impediu que milhares de pessoas se aglomerassem sob o Viaduto do Chá, no centro da cidade de São Paulo, em busca de uma oportunidade de trabalho. Um mutirão organizado pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) em parceria com o Sindicato dos Comerciários de São Paulo anunciou a oferta de 4 000 vagas para diversas ocupações, de operador de telemarketing e telefonista a vendedor e padeiro. São empregos concentrados no setor de serviços, aquele que, nos anos de forte expansão da economia, no início da década, era o que mais crescia e criava oportunidades de trabalho, mas, na crise atual, minguou assustadoramente. Num frio de 13 graus, no Vale do Anhangabaú, cerca de 6 000 pessoas ficaram na fila para pegar uma senha que daria direito a participar de processos seletivos feitos pelas empresas integrantes do mutirão. Os primeiros candidatos chegaram no sábado, dois dias antes do início da distribuição das senhas. Mas, apesar da multidão expressiva, silenciosa, ela representava apenas uma fração ínfima do 1,9 milhão de desempregados somente na região metropolitana de São Paulo, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em todo o Brasil, os mais afetados são os jovens: quatro em cada dez trabalhadores sem ocupação têm entre 16 e 24 anos. É uma geração que já chega ao mercado com poucas esperanças de um amanhã digno — uma cena que remete à década perdida de 80.
Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595