Em A Mulher na Janela, uma psicóloga que vive trancada em casa vê um crime. A inspiração foi Janela Indiscreta, de Hitchcock? Sim. A premissa é semelhante, porém o que você faz com a premissa é o que interessa. Eu queria escrever sobre minha experiência com a depressão, mas sem fazer um livro depressivo. A ideia veio quando eu estava assistindo a Janela Indiscreta, no meu apartamento em Nova York, e vi a vizinha do prédio em frente de roupão, no meio da sala.
Anna Fox, a protagonista, tem pavor de sair à rua, pois sofre de agorafobia. O senhor se identifica com ela? Sim. Não sofro de agorafobia, mas, nas crises depressivas, houve dias em que era difícil sair de casa — ou da cama. Anna e eu gostamos de filmes antigos e temos o mesmo senso de humor. O personagem, como um filho, é um ser diferente, mas compartilha o mesmo DNA que o autor.
Como tem sido sua convivência com a depressão e a bipolaridade? Eu me vejo como uma pessoa melancólica. A depressão foi e continua sendo a experiência que define minha vida. Nunca tentei o suicídio, porém houve períodos em que eu não sentia mais interesse em viver. Hoje, com os medicamentos certos, não estou mais tão infeliz. Passo por momentos difíceis, mas todo mundo passa.
O senhor recebeu 1 milhão de dólares do estúdio que vai levar seu livro para o cinema. O que fez com o dinheiro? Quitei os empréstimos que havia contraído para pagar a universidade e comprei um computador novo, para escrever o próximo livro. Minha vida não mudou. Ainda moro no mesmo apartamento.
Seu nome verdadeiro é Daniel Mallory. Por que o pseudônimo? Eu trabalhava no mercado editorial, e não desejava que outros editores soubessem quem estava mandando o livro para avaliação. E, embora meu nome não seja segredo, não gosto de vê-lo por aí. Não queria passar por uma vitrine de livraria e ver meu nome lá.
Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595