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A universidade pública em xeque

É preciso sacudir o velho modelo para impulsionar a excelência

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 4 jun 2024, 17h08 - Publicado em 15 dez 2017, 06h00

A Faculdade de Administração da USP é a FEA, de sólida tradição. Mas, dada a legislação brasileira, para cobrar pelos cursos de pós-graduação lato sensu e vender serviços, foi necessário criar uma fundação — como as centenas que existem por aí. Da costela da FEA nasce a FIA (Fundação Instituto de Administração).

Para pacificar o Conselho Nacional de Educação, a FIA criou também um curso de graduação, em paralelo ao da própria FEA. Como é fundação de direito privado, cobra dos estudantes (mensalidade de 2 800 reais). Como não tem a gloriosa reputação da FEA, recebe alunos com um Enem não tão alto. Além disso, 20% dos estudantes vêm de programas sociais.

Com tais desvantagens, a FIA deveria mostrar resultados mais fracos. Recentemente, saiu o seu Enade. Surpresa! A FIA obteve a nota máxima, 5. Se a FEA houvesse feito o teste, no melhor dos casos, teria o mesmo 5. Ou seja, a FIA, que é paga e recebe alunos mais fracos, empata com a FEA. Como é que pode?

Que razões haveria para tal resultado? Podemos especular…

Os professores da USP (ou de qualquer instituição pública) são invulneráveis. Não podem ser despedidos, e é dificílimo puni-los. Na prática, não cometem pecados sérios, mas ninguém manda neles. Já os da FIA são CLT, ou seja, mais “mandáveis”.

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Os professores da FIA são mais jovens e entusiasmados. Talvez por isso os alunos sejam também mais motivados.

A gestão da FIA é atenta e próxima. Há cobranças. Na FEA os professores são menos cobráveis.

Como em toda universidade de primeira linha, o que interessa na FEA é a pós-graduação. Lá ensinam os melhores e lá se pescam os fundos de pesquisa, em competições meritocráticas. Já o bom desempenho na graduação, por não trazer vantagens tangíveis, fica no limbo.

Serão esses os fatores que explicam o emparelhamento dos resultados? Trata-­se de uma análise muito superficial, pouco mais do que palpites. Teria de ser aprofundada.

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O ponto de partida, no entanto, é muito nítido. Uma instituição pública caríssima recebe alunos melhores, não cobra nada deles e termina com resultados iguais aos da própria cria, que cobra e não tem acesso ao mesmo perfil de alunos.

Na presente análise, o que menos interessa é que seja a USP. Aliás, nada contra as universidades públicas. Sua sina — ou seu azar — é dependerem da bondade ou da perversidade das regras de governança: o que pode, o que não pode, quem manda em quem, o que dá medalhas e o que dá puxões de orelha. Aqui coloco sub judice as regras que foram criadas para o ensino superior público. Por tudo o que sabemos, são para lá de capengas. Note-se que são regras bem diferentes daquelas que prevalecem nas melhores universidades públicas mundo afora.

Quem sabe não está na hora de repensar essas regras? O exemplo dado é apenas um fragmento do problema maior.

Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2017, edição nº 2561

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