Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

A xerife não perdoa

Vestager, guardiã da concorrência europeia, aplica multa fenomenal ao Google por abuso de seu domínio nos celulares. A decisão deverá acirrar a competição

Por Giuliano Guandalini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h29 - Publicado em 20 jul 2018, 06h00

Em 2004, a Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, impôs à Microsoft uma multa de 500 milhões de euros, o equivalente à época a 1,8 bilhão de reais. Foi um valor inédito. A então todo-poderosa da indústria de tecnologia foi acusada de usar práticas desleais ao forçar fabricantes a pré-instalar seus programas nos computadores. Dessa maneira, a Microsoft consolidava seu domínio no mercado de sistemas operacionais. De cada dez computadores, nove usavam o Windows. Sobrava pouco espaço para outras empresas. Além de pagar a multa, a Microsoft foi obrigada a mostrar os ícones das marcas de seus concorrentes no seu navegador para a internet, o Explorer. A decisão incentivou a competição, mas, de certa maneira, chegou tarde. A Microsoft já estava ficando para trás nos setores mais promissores. O Explorer caiu em desuso e quem domina a internet agora é o Google, que representa hoje o que a Microsoft foi no passado — inclusive nas práticas comerciais.

robo-android
(VEJA/VEJA)

Na quarta-feira 18, os europeus tascaram uma multa recorde de 4,34 bilhões de euros (quase 20 bilhões de reais) no gigante americano. Motivo: a companhia abusou de seu poder de mercado ao forçar os fabricantes a pré-instalar o Android, o sistema operacional do Google, nos celulares. Portanto, o Google faz na internet móvel algo similar ao que a Microsoft fizera com os computadores pessoais. O Android pode ser instalado por qualquer fabricante de celular, sem custo. Mas, para que o aparelho venha com a lucrativa Play Store, a loja de aplicativos do Google, é necessário que o mecanismo de busca da empresa e seu sistema operacional estejam instalados. Mais da metade do tráfego da internet ocorre nos celulares, e o Android está em oito de cada dez smartphones. O Google argumentou que as pessoas são livres para usar outros sistemas. Para Margrethe Vestager, a xerife de competição da União Europeia, “as evidências comprovam que a vasta maioria das pessoas utiliza aquilo que já vem instalado”. Outros gigantes americanos, como a Apple e a Amazon, já foram alvo de investigações de Vestager.

“A multa foi severa. Os EUA analisaram queixas semelhantes, mas os casos foram arquivados”, diz Paulo Furquim, professor de regulação do Insper e ex-conselheiro do Cade. “Os americanos possuem uma visão mais liberal, desde que não haja prejuízo comprovado para os consumidores.” Obrigado a rever seus atuais contratos com os fabricantes, o Google evidentemente vai recorrer da decisão. No ano passado, a empresa já havia recebido outra multa pesada, de 2,4 bilhões de euros, cerca de 9 bilhões de reais, por favorecer a sua ferramenta de comparação de preços em detrimento de sites concorrentes. É duro, mas não é o fim. No mundo dos negócios, a pena terrível seria outra: ser um dia superado por um novo competidor, tal como o próprio Google superou a Microsoft e, dez anos depois, veio a cometer pecado tão semelhante ao do antecessor.

Publicado em VEJA de 25 de julho de 2018, edição nº 2592

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.