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Alívio no bolso

Inflação em queda, juros mais baixos, melhora no emprego e o empurrãozinho do FGTS dão força ao consumo. Mas a retomada ainda requer investimento e reformas

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 set 2017, 06h00 - Publicado em 8 set 2017, 06h00
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(Arte/VEJA)

A incipiente recuperação econômica parece ter resistido à hecatombe política causada pela delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, em maio. Resta saber como será agora com as revelações da semana. O fato é que os sinais positivos de melhora na economia começaram a se avolumar: puxado pelos gastos das famílias, o produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre cresceu 0,2%, um resultado tímido, mas superior às expectativas de estabilidade ou ligeira queda. No mercado, agora já se avalia que o país encerrará o ano com avanço de até 1%, podendo chegar a 3% em 2018. Depois de nove trimestres de queda, o consumo dos brasileiros voltou a crescer e gerou um impacto positivo em toda a economia.

Uma das razões do otimismo revigorado é o controle da inflação. O indicador está em queda e recuou a 2,46% na taxa anual, abaixo do centro da meta oficial de 4,5%. Isso contribui para a recomposição do poder de compra dos consumidores e cria condições para que o Banco Central prossiga com o processo de redução do custo do dinheiro. Na semana passada, a taxa básica de juros, a Selic, foi reduzida de 9,25% para 8,25% ao ano. A liberação do saldo das contas inativas do FGTS, de março a julho, também deu força ao consumo. Por fim, o mercado de trabalho finalmente começa a reagir: 690 000 pessoas deixaram o contingente de desempregados no trimestre encerrado em junho. Em paralelo, outras duas boas notícias. O agronegócio se beneficia da safra recorde, e até a indústria mostra sinais encorajadores, com quatro meses seguidos de expansão. Um dos destaques: o setor de automóveis, cujas vendas no país acumulam alta de 7% no ano.

Neste início de retomada do consumo, as redes de produtos populares aparecem entre as mais favorecidas. A asiática Miniso acaba de abrir as primeiras filiais em São Paulo e planeja chegar a 1 000 lojas até 2019, vendendo produtos de beleza e utilidades domésticas — tudo made in China. O grupo virou sucesso na Ásia por oferecer mercadorias com design moderno e preço baixo. No dia da inauguração da primeira unidade, o faturamento superou 150 000 reais.

O alívio mostra-se evidente, mas, segundo os economistas, ainda é cedo para a festa de arromba. A melhora no mercado de trabalho tem ocorrido com a substituição de empregos bem pagos por outros nem tanto, em especial na indústria. O efeito é que o volume de recursos disponíveis para o consumo não cresce tanto. Mas a maior fonte de preocupação são os investimentos na expansão da capacidade produtiva e na infraestrutura, fundamentais para que a retomada ocorra de forma saudável e sustentada. O montante aplicado em obras está em queda há mais de três anos, o que reflete a crise fiscal e a falta de confiança dos empresários. Trata-se de um indicador mais sensível ao agravamento da crise política. Para os analistas, apenas depois da eleição do próximo ano deverá ocorrer um avanço mais expressivo dos investimentos. Até lá, a atitude dos empresários será “esperar para ver” o que acontece.

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Embora o Congresso tenha aprovado a reforma trabalhista e outros ajustes, o governo ainda não conseguiu aprovar o seu projeto mais importante, que é a reforma da Previdência. Ela é fundamental para limitar o avanço das despesas públicas. Enquanto isso não está assegurado, o desafio de reequilibrar as finanças continua sem solução. “É a manutenção da agenda de reformas que permitirá que a economia siga crescendo sem solavancos”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. O alívio no bolso dos brasileiros chega em boa hora, mas ainda falta muito trabalho para a economia deslanchar.

Com reportagem de Fabiana Futema

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2017, edição nº 2547

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