Quando assumiu a candidatura tucana à Presidência da República, Geraldo Alckmin carregava a certeza de que só se ganha uma eleição com uma coligação partidária forte, dinheiro e tempo na TV. A menos de vinte dias do primeiro turno das eleições, o ex-governador de São Paulo — que conseguiu aglutinar a maior quantidade de siglas em torno de si, pertence a um partido com direito ao terceiro maior valor do fundo eleitoral e é senhor de intermináveis cinco minutos em cada bloco de propaganda na TV — aparece nas pesquisas como um candidato nanico.
Na semana passada, Alckmin caiu 2 pontos no levantamento do Ibope, em que está com 7% das intenções de voto, e manteve no Datafolha os mesmos 9% que tinha antes — e que o relegam a um humilhante quarto lugar no ranking. Em São Paulo, sua cidadela política há quarenta anos, a desvantagem em relação a Jair Bolsonaro constrange: o candidato do PSL, segundo o Ibope, é o preferido de 30% do eleitorado paulista, enquanto Alckmin, que venceu a última eleição estadual no primeiro turno, é escolhido por apenas 13%, desempenho similar ao do petista Fernando Haddad.
Na eleição estadual, o tucano João Doria é outro sinal de perigo. Pelas pesquisas mais recentes, Doria, que deixou a prefeitura de São Paulo depois de 15 meses para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, lidera a corrida, com 4 pontos à frente de Paulo Skaf (MDB-SP), de acordo com o Datafolha. No segundo turno, no entanto, Doria fica 4 pontos atrás de Skaf. Se Alckmin e Doria perderem em São Paulo, será uma derrota histórica. O PSDB domina o estado há 23 anos e o faz com tal hegemonia que o território paulista é chamado de Tucanistão.
Em política, todo fracasso é órfão. Aliados dividem-se na escolha do culpado: o responsável principal pela situação seria o próprio Alckmin, por ter escolhido atacar Bolsonaro quando deveria ter se posicionado desde o começo como o “anti-PT”, estratégia só adotada depois do atentado ao presidenciável do PSL. Na caça aos culpados, sobrou até para o economista da campanha, Pérsio Arida. Acusam-no de não ter elaborado um discurso econômico simples e direto, capaz de chamar a atenção do eleitor, como fez Ciro Gomes (PDT), com a promessa de salvar os endividados do SPC.
À parte os erros estratégicos e as fulanizações, começa a ficar claro para os tucanos que outro inimigo, mais insidioso e menos visível, teve peso definitivo para abalar as estruturas do PSDB em São Paulo: a obsolescência de suas crenças basilares — o que inclui desde a certeza de “saber” o que interessa ao eleitor até a convicção de seus integrantes de que “tempo de TV e sola de sapato” são a chave da vitória. No futuro, as incríveis eleições de 2018 talvez sejam lembradas como um pleito que produziu fenômenos imprevisíveis, momentos trágicos, episódios surpreendentes e muita perplexidade. Poderão, também, ficar marcadas como o ano em que, no maior e mais rico estado do Brasil, o império tucano ruiu.
Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601