Não será nada fácil a vida de Michel Temer ao deixar o Palácio do Planalto. Na terça-feira 4, a Polícia Federal concluiu inquérito em que aponta indícios concretos de que o presidente cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao receber, por meio de prepostos, propina da Odebrecht. Assinado pelo delegado Thiago Delabary, o relatório traz os resultados da investigação sobre dois enredos revelados por VEJA meses antes de a Odebrecht assinar seu acordo de delação premiada. São eles: o pedido de 4 milhões de reais feito à empreiteira pelo atual ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, quando comandava a Secretaria de Aviação Civil, e o acordo celebrado entre Temer e o empresário Marcelo Odebrecht, durante jantar no Palácio do Jaburu, para que a companhia fizesse uma contribuição de 10 milhões de reais a próceres do então PMDB em 2014. Segundo delatores da empreiteira, as demandas de Temer e de seus aliados foram atendidas — e os pagamentos, efetuados em dinheiro vivo.
A PF identificou repasse de 1,4 milhão de reais, no começo de 2014, ao coronel João Baptista Lima, suspeito de ser laranja de Temer. Além dele, o advogado José Yunes, amigo do presidente, é citado como intermediário da propina. Yunes confirmou que recebeu um envelope a pedido do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, também acusado pela PF, mas não sabia que havia 1 milhão de reais dentro dele. Moreira Franco e Padilha rechaçam as acusações. O coronel Lima só se manifesta nos autos. Já Temer afirma ser vítima de perseguição judicial. Ele já responde a duas denúncias apresentadas com base na delação de Joesley Batista e no processo apelidado de “quadrilhão do MDB” — e que voltarão a andar quando Temer deixar o cargo.
Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2018, edição nº 2599