Datas: Aracy Balabanian, Hélène Carrère d’Encausse e William Friedkin
A atriz eclética, a dama francesa das letras e o diretor de 'O Exorcista'
Houve um tempo, antes da gritaria das redes sociais, em que os críticos de teatro eram tratados com respeito e atenção, como faróis do que estaria por vir. “Aracy Balabanian, guardem esse nome”, anotaram Sábato Magaldi e Décio de Almeida Prado em uma resenha. Eles tinham visto a atriz mal saída da adolescência, de 14 anos, no palco com a peça Almanjarra, de Arthur Azevedo. Aracy tinha sido convidada por Augusto Boal. Nascia ali uma das mais interessantes carreiras artísticas do Brasil. O sucesso no proscênio, nos anos 1960, a levou a ser convidada a trabalhar na televisão — e, então, deu-se o nascimento de uma profissional eclética, que ajudou a contar a vitoriosa história da tela pequena.
Para crianças ou adultos, no drama ou na comédia, especialmente em novelas, Aracy atraiu o carinho do Brasil. Em Vila Sésamo, de 1973, ela foi a Gabriela, par de Juca, interpretado por Armando Bógus. Em 1990, conquistou o país com a dona Armênia, de Rainha da Sucata, a mãe controladora de três filhos. O personagem voltaria em Deus Nos Acuda, de 1992. Um de seus bordões, ao dizer que colocaria o prédio da Sucata “na chón”, virou mania — em sotaque inspirado na própria família de origem armênia. Em A Próxima Vítima, de 1995, ela fez a manipuladora Filomena. Contudo, como a verve cômica parecia movê-la, aceitou o papel de Cassandra, uma dama da sociedade em decadência, em Sai de Baixo, que estrearia em 1996. Era a costura do início de carreira com o tempo de maturidade. “Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo ator, teatro e televisão”, disse. Sai de Baixo era como uma peça encenada para a TV, mostrada ao vivo. Sua última novela foi Sol Nascente, de 2016. Morreu em 7 de agosto, aos 83 anos, no Rio, em decorrência de câncer no pulmão.
A grande dama
A erudição e a elegância da historiadora francesa Hélène Carrère d’Encausse eram celebradas na França. Especialista em estudos da União Soviética e da Rússia, em um tempo em que tais temas poderiam soar como provocação, nos anos 1960 e 1970, “a grande dama das letras e das artes”, como a chamavam, venceu as barreiras de cunho ideológico e machista. Em 1990, foi eleita para a Academia Francesa — e, desde 1999, era a secretaria “perpétua” da entidade. Em 1994, tinha sido eleita deputada europeia pelo Partido Republicano, de linha conservadora. Era mãe do escritor Emmanuel Carrère, autor de O Reino e Ioga, um dos grandes nomes da atual literatura francesa. Ela morreu em 5 de agosto, aos 94 anos, em Paris. “Seu legado é imortal”, disse o presidente Emmanuel Macron.
Inovação nas telas
O diretor americano William Friedkin ajudou a dar cara ao cinema de Hollywood no início dos anos 1970, ao mesclar entretenimento com inteligência, suspense e aventura com ironia e humor — mistura que andava fazendo falta no cinema americano. Em 1972, ele recebeu o Oscar de melhor diretor por Operação França, estrelado por Gene Hackman. Dois anos depois seria novamente indicado, com O Exorcista — que não levou, mas inaugurou uma nova família de filmes de horror, levando ao estrelato a atriz Linda Blair. Friedkin morreu em 7 de agosto, aos 87 anos.
Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2023, edição nº 2854