Meu filho vai saber
A atriz e “musa fitness” Karina Bacchi está prestes a ser mãe por produção independente; ela conta por que escolheu um doador nos Estados Unidos
Ser mãe sempre foi um desejo. Desde criança eu cuidava das bonecas como se fossem minhas filhas. O tempo corre muito rápido, e, quando me dei conta, eu me vi prestes a completar 40 anos. A opção pela produção independente decorreu de uma série de acontecimentos. No ano passado, separei-me do meu marido. Ficamos casados por seis anos. Ele tem dois filhos do primeiro casamento e não queria ser pai novamente. Eu nutria a esperança de que mudasse de ideia, e acredito que ele contava com minha desistência. Havia amor e vontade de que a união desse certo, então fomos deixando a conversa sobre crianças em segundo plano por alguns anos. Também descobri a hidrossalpinge, que consiste em acúmulo de líquido nas trompas, e tive de retirá-las, o que me impossibilitou ter filhos de forma natural. Eu me vi diante do risco de não realizar meu sonho, e isso me assustou e me alertou. Precisei fazer escolhas, com os pés no chão — mas em pouco tempo.
No ano passado, descongelei parte dos óvulos que armazenara aos 34 anos, por orientação da minha tia, que é obstetra. Fiz apenas uma fertilização in vitro, e deu certo. Contei primeiro a alguns amigos próximos, e depois ao público em geral. Dividir essa notícia foi como gritar ao mundo: “Eu venci!”. Trata-se de um processo de muita expectativa, espera e oração. Ao me descobrir grávida, eu me senti poderosa, encorajada. O medo nunca passou perto da minha história, e ver o sonho se realizando foi algo fortalecedor. É preciso ser determinada para tomar uma decisão como essa. Assumir as responsabilidades de uma maternidade independente não é para qualquer pessoa.
Meu filho terá acesso a todas as informações sobre a sua vida e o modo como foi gerado. Por isso, eu quis ter o máximo possível de dados sobre o doador de sêmen. A escolha levou cerca de três meses, com pesquisas em bancos brasileiros e internacionais. Aqui, havia menos referências sobre a pessoa e sua família. Desse modo, escolhi o doador em um banco estrangeiro. Vi suas fotos da infância à adolescência e conheço suas características físicas: etnia, cor dos olhos e do cabelo, altura, peso, traços. Tive acesso ao histórico de saúde do doador e de sua família, seu signo, religião, hobbies, trabalho, gostos e impressões sobre diversos assuntos. Procurei alguém com quem me identificasse, não só fisicamente, mas também em um contexto geral.
Antes de começar o processo de produção independente, mas já com planos de engravidar, comprei em viagem à Grécia as primeiras roupinhas para bebê, bodies e maiozinhos para menino e menina, além de sandalinhas e sapatinhos gregos. Já estava com sentimento maternal, no início de uma jornada ainda por vir. Agora, nesta reta final da gravidez, a ansiedade se multiplica. Quero ter o bebê em meus braços. Desejo fazer parto normal nos Estados Unidos, para que meu filho tenha mais oportunidades, com múltipla cidadania — brasileira e italiana, como eu, e americana. Meus pais e uma enfermeira estarão ao meu lado. Reconheço que a figura paterna é importante, mas desde que acompanhada de muito amor, que esteja presente. Pais sem companheirismo e afeto, às vezes, até prejudicam a formação desse pequeno ser que vem ao mundo.
Não tenho tantos anos pela frente para tentar engravidar de novo, nem tantos óvulos quanto gostaria, mas ainda quero aumentar a família. Pretendo ter mais filhos futuramente, e se será de forma independente ou não vai decorrer do meu estado civil. Prefiro, contudo, aguardar a experiência de ser mãe do meu primeiro. Acredito que hoje o preconceito com a produção independente já não é tão predominante. No meu caso, foi o contrário: eu me senti apoiada. Recebo centenas de mensagens de mulheres que gostariam de fazer o mesmo que eu mas não têm coragem. Meu conselho é: não decidam nada por impulso. Pensem e repensem se vocês estão preparadas.
Depoimento a Meire Kusumoto
Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540