Andrés Manuel López Obrador, conhecido pelas iniciais AMLO, é o favorito para vencer a eleição presidencial mexicana de domingo, 1º de julho, com 38% das intenções de voto. Em um pleito sem segundo turno, ele e seu partido, Morena, têm grandes chances de acabar com a alternância que prevalece na política mexicana desde 2000, quando se encerrou a hegemonia de sete décadas do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Desde então, o católico Partido Ação Nacional (PAN), mais forte nas regiões industrializadas do norte do país, vem se alternando no poder com o PRI, do atual presidente Enrique Peña Nieto. Para a eleição deste ano, porém, ambos patinam nas pesquisas. O candidato Ricardo Anaya, do PAN, tem 20% das preferências, e José Antonio Meade, do PRI, 18%. Assim, a não ser que haja uma grande reviravolta, pela primeira vez um representante da esquerda governará o México desde que a chamada “ditadura perfeita” do PRI se encerrou. “López Obrador representa a esquerda nacionalista, que foi muito presente no passado latino-americano e estava na essência do PRI, até o partido se converter ao neoliberalismo nos anos 1990”, diz o cientista político uruguaio Francisco Panizza, professor da London School of Economics, na Inglaterra.
AMLO, que tenta a Presidência pela terceira vez, fez uma campanha de comícios, de corpo a corpo com os eleitores. Sua marca registrada é o gesto de abraçar a si mesmo. “Vamos fortalecer a economia nacional, o mercado interno. Vamos produzir no México aquilo que consumimos”, discursou na semana passada. Ele fala em desenvolver o sul, mais rural, com medidas que incluem a construção de estradas sem o uso de máquinas (para empregar mais gente) e a plantação de feijão, milho e árvores frutíferas em larga escala. “Em certos temas, AMLO praticamente não mudou ao longo dos anos, como a defesa de um papel maior do Estado na economia para beneficiar os mais pobres, a luta contra uma elite de políticos corruptos e empresários cúmplices e a ideia de que é possível combater a desigualdade com políticas públicas”, explica a socióloga María Eugenia Valdés Vega, da Universidade Autônoma Metropolitana, da Cidade do México.
O nacionalismo de AMLO e suas promessas de elevar os gastos públicos espantam empresários, mas até o londrino Financial Times, um dos mais importantes diários econômicos do mundo, vê sua vitória com tranquilidade. Ao contrário de Donald Trump, AMLO deixou de falar abertamente em rasgar o Nafta, o acordo de livre-comércio com os Estados Unidos e o Canadá. Seu provável ministro da Fazenda, Carlos Urzúa, costuma enaltecer a austeridade fiscal. “Ele indicou nomes bem-vistos pelo mercado para chefiar as principais pastas de seu governo”, diz a economista Patricia Krause, da seguradora de risco Coface, em São Paulo. Embora o candidato prometa revogar a reforma energética, que acabou com o monopólio da estatal de petróleo, isso só seria possível com o aval de dois terços do Congresso, algo com que ele dificilmente poderá contar.
Outra questão central no México é a criminalidade. Em maio, o país teve o mês mais violento já registrado, com 2 890 homicídios. O aumento deve-se ao surgimento de grupos armados que roubam gasolina de gasodutos, os huachicoleros. “Com a elevação no preço dos combustíveis, eles compraram armas e passaram a brigar entre si”, diz o mexicano Eduardo Arcos, da consultoria Control Risks. López Obrador apoia o uso de milícias de moradores contra os cartéis de drogas e outras gangues. Entre seus cabos eleitorais está José Manuel Mireles Valverde, que já chefiou o Grupo de Autodefesa Comunitária, em Michoacán.
Publicado em VEJA de 4 de julho de 2018, edição nº 2589