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Nada decorativos

Personalidade forte — e ideias que nem sempre combinam com as do par de chapa. Assim se mostraram os vices no debate de VEJA com o apoio do Facebook

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h24 - Publicado em 7 set 2018, 07h00
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  • Líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) propõe, para conter a crise migratória de venezuelanos, criar um campo de refugiados em Roraima, na fronteira com o país de Nicolás Maduro. Também defende a revogação da Lei de Migração, que prevê “repúdio” à xenofobia, “inclusão social” e “igualdade de tratamento” para esses estrangeiros. Já o vice em sua chapa nas eleições de 2018, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), revela outro ponto de vista sobre o assunto. Ele afirma que o Brasil não pode “virar as costas aos nossos irmãos venezuelanos, que sofrem com a fome, a falta de medicamentos e de perspectivas” e se diz favorável à política de condução de refugiados do país vizinho a outros estados brasileiros. Essa declaração foi feita no debate entre candidatos a vice-­presidente da República promovido por VEJA, com o apoio do Facebook, na terça-feira 4. Entre os temas abordados — de cultura a reforma tributária, de salário mínimo a agronegócio —, os quatro participantes recusaram o papel de “decorativos”, para usar a expressão escolhida por Michel Temer para se referir a si próprio na célebre carta enviada em 2015 à então presidente Dilma Rousseff. Tanto nas propostas quanto nos embates com os concorrentes (assista à íntegra em abr.ai/debate-vices), eles mostraram ênfase típica de titular da chapa, e conceitos algumas vezes contraditórios com os de seu par.

    Paulo Rabello (PSC), que presidiu o BNDES na gestão Temer, defendeu o histórico de lisura do banco, enquanto seu companheiro de corrida, Alvaro Dias (Podemos), afirmou ver “corrupção” e “falcatruas” em negócios da instituição. Eduardo Jorge (PV) foi bem além do plano de incentivar a comida vegetariana, que consta no programa de governo de Marina Silva (Rede), e falou em um “abolicionismo animal”. Ana Amélia precisou defender Ciro Nogueira, presidente de seu PP, por ele fazer campanha ostensiva para o PT no Piauí enquanto ela forma dobradinha com Geraldo Alckmin, do PSDB. “Sobrevivência eleitoral”, justificou a senadora.

    Foram convidados para o encontro, mediado pela colunista de VEJA Lillian Witte Fibe, os companheiros de disputa dos seis nomes mais bem colocados na pesquisa Ideia Big Data, de julho. Fernando Haddad (PT), da dupla com Lula, recusou o convite. Kátia Abreu (PDT) havia confirmado a participação, mas desmarcou a presença três dias antes do encontro, depois que a última edição de VEJA noticiou que uma testemunha acusa Ciro Gomes (PDT) de participar de esquema de corrupção no Ceará (veja a reportagem).

    Na contenda presidencial deste ano, há outras sete candidaturas inscritas. Ouvir o que pensam os candidatos a número 2 da República significa ter uma ideia mais clara do que se está escolhendo ao selecionar um nome na urna eletrônica. A história recente do país reforça a importância de ficar de olho na composição dessas dobradinhas. Desde o fim da ditadura militar, três vice-presidentes acabaram assumindo a cadeira do titular: José Sarney, Itamar Franco e, claro, Michel Temer.

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    A boa notícia é que o público está se mostrando atento a essas possibilidades. A transmissão ao vivo do debate, feita em conjunto pelo perfil de VEJA no Facebook e pela página oficial da rede social, registrou números portentosos: mais de 1,4 milhão de visualizações, 84 600 comentários e 11 200 compartilhamentos. O nome do candidato Eduardo Jorge se tornou o terceiro assunto mais comentado do Twitter no Brasil naquela tarde, em especial ao defender sua posição anticarnívora, com o fim progressivo dos abates. Se nos próximos quatro anos o eleitor vai engolir frango, salada ou um vice que pode eventualmente passar de acompanhamento a prato principal, é uma incógnita, mas o melhor a fazer é prestar atenção ao cardápio.

    Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2018, edição nº 2599

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