O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que 55 crianças brasileiras estão entre os milhares de imigrantes detidos em abrigos e centros provisórios dos Estados Unidos. Agentes de imigração separaram as crianças dos pais quando as famílias tentavam entrar no país pela fronteira com o México.
Inicialmente, ao arrancarem as crianças dos braços dos familiares, alguns agentes deixaram de anotar informações básicas. Não registraram seus nomes, o país de origem nem mesmo o local para onde elas seriam levadas. Com isso, demonstraram enorme crueldade e absoluta negligência.
Agora, felizmente, as autoridades sabem onde estão as crianças. O que não conhecem, justamente porque os agentes não fizeram os registros adequados, é a família a que pertence cada uma delas. Algumas são muito pequenas, seus pais já foram deportados e o governo dos Estados Unidos não sabe onde eles estão.
O presidente Michel Temer abordou essa tragédia em conversas com o vice-presidente americano Mike Pence quando os dois se encontraram em Brasília, no fim de junho. Temer ofereceu colaboração para organizar o transporte de crianças detidas para que elas possam retornar ao Brasil, conforme o desejo de suas famílias. A resposta de Pence foi simplesmente a reafirmação da absurda política de tolerância zero do governo Trump. Sobre as crianças separadas, ele tinha pouco a dizer.
Como consequência da enorme pressão internacional que se seguiu, as autoridades americanas decidiram parar de separar as crianças recém-chegadas dos pais. Contudo, agora planejam deter famílias inteiras, embora o direito internacional deixe claro que a detenção nunca é do melhor interesse de uma criança.
A diplomacia do Brasil deve insistir para obter acesso a todos os abrigos e centros de detenção com crianças, a fim de tentar mapear a localização das que forem brasileiras. Deve também exigir do governo americano informações sobre o local onde seus pais estão detidos, para que possa aconselhá-los sobre as opções legais de reunificação familiar. Quanto àquelas famílias que desejarem se reunir no Brasil, Temer pode cumprir sua palavra e fornecer um avião oficial para trazer as crianças para casa.
Os diplomatas brasileiros devem não apenas agir rapidamente para proteger os direitos e interesses dessas crianças, mas também insistir para que os Estados Unidos deem fim a essa política, que inflige incalculáveis danos psicológicos a inocentes.
O presidente Donald Trump não tem demonstrado preocupação sobre o modo como o tratamento cruel das crianças imigrantes é visto no exterior. Ainda assim, se há um país que pode pressionar os Estados Unidos a promover a reunificação das crianças com sua família, pode muito bem ser aquele com a maior economia entre as nações latino-americanas de onde essas famílias estão migrando — o Brasil.
Publicado em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591