O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República, revelou no Amarelas ao Vivo, ciclo de debates promovido por VEJA na semana passada, o nome do economista que será responsável por sua orientação econômica durante a campanha e num eventual governo. É Paulo Roberto Nunes Guedes, de 68 anos, doutor em economia pela Universidade de Chicago, templo do liberalismo econômico. Ele trilhou toda a sua carreira no setor privado, nunca foi filiado a partido e o mais próximo que chegou da política foi quando participou da elaboração do plano de governo do empresário e ex-ministro Guilherme Afif Domingos, na campanha presidencial de 1989. Um dos fundadores do Banco Pactual, hoje BTG Pactual, Guedes é também fundador e sócio majoritário do grupo BR Investimentos, que atualmente faz parte da Bozano Investimentos. Foi professor de macroeconomia na PUC-Rio, na Fundação Getulio Vargas e no Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). É um dos fundadores do Instituto Millenium, centro de estudos liberais.
Bolsonaro diz que procurou o economista guiado pelos seguintes critérios: Guedes teria se manifestado contrário aos planos econômicos do passado e feito críticas inclusive ao Real, além de ter recusado convite para participar do governo petista. De fato, o economista criticou publicamente o Plano Cruzado e discordou da elevada taxa de juros não combatida pelo Plano Real, que apoiou. Sobre a recusa ao convite do PT, ela se deu em dezembro de 2015, pouco antes da saída de Joaquim Levy do cargo de ministro da Fazenda. Na ocasião, Guedes teve um encontro com a então presidente Dilma Rousseff e o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no Palácio da Alvorada. No jantar, que durou quatro horas, Dilma informou-o da saída iminente do ministro e disse que não tinha ninguém em mente para substituí-lo. Diante da sondagem, Guedes não manifestou interesse em ocupar o cargo.
No debate promovido por VEJA, o economista foi citado por outro entrevistado. O apresentador Luciano Huck afirmou que ouviu dele a primeira avaliação de que a eleição de 2018 seria propícia para pessoas de fora da política. “Paulo tem um poder de enxergar o cenário, as coisas, antes que elas aconteçam. Antes do Trump, do Doria, dois anos atrás, ele dizia ‘você tem que estar preparado na sua vida, porque vai acontecer isso, e isso, a classe política está completamente sem crédito, vai derreter, precisa ter gente de fora”, disse Huck.
No caso do apresentador, quem fez a ponte entre ele e Guedes foi a filha do economista, Paula Guedes, que segue a mesma cartilha do pai — é presidente do Instituto de Formação de Líderes (IFL) no Rio, centro de promoção de ideias liberais. Pesquisas de opinião conduzidas pela equipe de Paula detectaram que a população estava atrás de um perfil no qual Huck se encaixava, um outsider da política, jovem e empreendedor.
Já Bolsonaro não revela como se aproximou de Guedes, que, por sua vez, também não dá detalhes sobre sua relação com o pré-candidato. Guedes confirma apenas que eles se encontraram por duas vezes — ocasiões em que, nas palavras do economista, “a ordem encontrou o progresso”. Os dois conversaram por oito horas ao todo, segundo Bolsonaro, que disse que a relação ainda é “um namoro” .
A revelação da aproximação com o deputado e capitão da reserva Jair Bolsonaro pegou de surpresa o círculo liberal do qual o economista faz parte. Afif Domingos contou que Guedes afirmava estar trabalhando com um grupo de economistas do Rio pela candidatura de Huck. “Há um ano e meio, ele me disse que o Huck teria boa penetração na área social.” Guedes sempre criticou o modelo econômico nacionalista adotado pela ditadura militar, do qual Bolsonaro, pelo menos até há pouco tempo, era um entusiasta. “Um economista liberal como o Paulo não tem nada a ver com um estatista como Bolsonaro”, diz a economista tucana Elena Landau. “Não faz nenhum sentido.” O tempo dirá se o amor será capaz de superar tantas diferenças.
Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2017, edição nº 2559