Em 2015, Trump lançou sua campanha para a Presidência dos Estados Unidos com a promessa de implementar duras medidas contra imigrantes indocumentados, os quais acusou de “estupradores” e de “levar o crime” para os EUA. Dizia aos eleitores que, se eleito, construiria um muro na fronteira com o México, criaria “uma força-tarefa de deportação em massa” para expulsar milhões de pessoas que vivem no país sem documentos e acabaria com a proteção de imigrantes que chegaram ao país quando crianças.
Isso me assustou. Há dezoito anos, meu irmão se mudou para os EUA com um visto de estudante. Hoje ele tem um green card, mas muitas das razões que o levaram para os EUA são as mesmas de tantas pessoas que ali chegam sem os documentos necessários — encontrar um trabalho adequado às suas competências e sustentar a família. No caso do meu irmão, a mudança para os EUA significava continuar uma carreira esportiva. Para milhões de imigrantes sem documentos, significa construir estradas, trabalhar na agricultura ou em lanchonetes.
Um ano após a eleição, as promessas de endurecer as políticas contra imigrantes irregulares se oficializaram. De janeiro a setembro, o número de imigrantes detidos no interior do país — não nas fronteiras — aumentou 42% em comparação com o mesmo período de 2016. A administração de Trump não focou supostas ameaças à segurança pública, prendendo quase três vezes mais pessoas sem nenhum antecedente criminal.
Ouvi histórias de detenção e deportação de imigrantes que foram expulsos de seu local de trabalho. A maioria dos estados americanos não emite carteira de motorista a imigrantes indocumentados, os quais frequentemente são submetidos ao processo de deportação quando parados no trânsito pela polícia.
Meu irmão e sua mulher têm dois filhos nascidos no Brasil e mais dois nascidos nos EUA. Quando leio e escuto histórias das famílias separadas pela deportação de um dos pais, é impossível não pensar neles. Muitos daqueles que estão sendo algemados e deportados chegaram aos EUA ainda pequenos e viveram no país por décadas, mas agora precisam abandonar a mulher ou o marido e duas, três ou mais crianças com cidadania americana. Alguns deixam pequenos negócios, comunidades religiosas e seus empregadores. Esse tipo de deportação não é exceção, mas a brutal realidade da atual política de imigração de Trump.
De acordo com o direito internacional, os laços de uma pessoa com sua família e comunidade devem ser considerados contra o interesse do governo em deportá-la.
A sociedade civil dos EUA pressiona por reformas nas políticas de imigração que causam danos desnecessários a comunidades e famílias. A comunidade internacional precisa se manifestar. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estima que mais de 1 milhão de brasileiros vivam nos EUA — isso é motivo suficiente para pressionar o governo americano a revisar sua política atual de imigração, substituindo-a por uma que respeite os direitos humanos.
Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2018, edição nº 2563