Resultados preliminares mostram que, no norte do Iraque, 92% dos que votaram no referendo do dia 25 de setembro apoiam a criação de um país independente para os curdos, etnia que também se espalha pelos territórios da Turquia, da Síria e do Irã. Na Espanha, os catalães pretendem realizar uma votação semelhante em 1º de outubro. Eles ameaçam declarar a Catalunha independente do governo central espanhol em 48 horas caso a maioria aprove a divisão. Ainda que se considere legítimo que os povos se manifestem sobre o destino que pretendem tomar, esse tipo de iniciativa raramente alcança seus objetivos.
O principal motivo está no fato de que a ordem mundial é decidida por Estados, que tendem a proteger a si próprios. Um governo que apoie um movimento separatista em outro lugar não poderia, em tese, dar as costas a um grupo doméstico que pense em repetir a façanha. Não por acaso, o surgimento de países é fenômeno raro. No século XXI, só nasceram três: Montenegro, Timor Leste e Sudão do Sul. Ao menos outros quatro já funcionam de maneira autônoma, mas sem a chancela da comunidade internacional: Kosovo, Ossétia do Sul, Somalilândia e Abkhasia.“Governantes estrangeiros geralmente só apoiam novos países quando o governo central da nação dividida aceita o racha, o que não é o caso da Catalunha ou do Curdistão”, diz Ryan Griffiths, professor de relações internacionais da Universidade de Sydney, na Austrália.
Se de fato declararem sua independência, os curdos sofrerão retaliações dos vizinhos Turquia e Irã, que temem separatistas dentro de suas fronteiras. Esses países poderiam negar-se a enviar produtos para o Curdistão iraquiano, altamente dependente de importações. A Catalunha, pela mesma razão, também entraria em atrito com os membros da União Europeia (UE), que lidam com nada menos que 37 grupos separatistas. Caso se desligue da Espanha, a Catalunha dificilmente logrará entrar na UE. “O histórico de Estados que conseguem se separar não é muito bom. Basta ver o exemplo da Bósnia, do Sudão do Sul ou do Kosovo, que são pobres e instáveis”, diz Denise Natali, da Universidade de Defesa Nacional, nos Estados Unidos.
Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2017, edição nº 2550