A senhora passou o sábado, dia 26, visitando caminhoneiros grevistas em São Paulo. Foi a convite deles? Em nenhum momento os caminhoneiros me procuraram. Eles nem têm representante — tirando eu. Aliás, sempre disseram em entrevistas que o movimento não tem liderança. Acho que foi por essas declarações que a internet me chamou com piadinhas, charges e memes: “Chama a Sula! Só quem pode resolver isso é ela”. Foi lindo, porque, puxa, a sociedade me vê mesmo como rainha dos caminhoneiros.
É um título que orgulha a senhora? Sim. Fiquei nacionalmente conhecida pelo sucesso da minha primeira música, Caminhoneiro do Amor. Ali, em 1986, começaram a me chamar de rainha dos caminhoneiros, e passei a dedicar uma faixa de todos os meus CDs a eles. Na verdade, a canção é sobre a vida da esposa de caminhoneiro. Quem me introduziu na boleia foi a mulher. A mulher achava que, se o caminhoneiro ouvisse a Sula Miranda, ele iria pensar nela. Foi uma estratégia feminina.
Como foi o encontro na estrada? Levei 70 litros de água, bolo e lanche. Foi uma coisa muito simples. Conversamos, e eles me contaram sobre suas reivindicações, que todos conhecem. Não teve nada de reivindicação política. Os aproveitadores baixaram lá querendo fazer campanha, tirar vantagem e sair na foto, mas o caminhoneiro não deixou ninguém pegar carona. O problema não nasceu agora. Nasceu quando optaram por investir mais na malha rodoviária do que em ferrovias e hidrovias. Depois da conversa, eu evangelizei.
Evangelizou? Sim, juntei os caminhoneiros, rezamos o pai-nosso e orei por eles, para que tivessem sabedoria para lidar com essa situação. Sou cristã. E no domingo (27 de maio) fiz o que tenho feito uma vez a cada mês: fui a um terminal de cargas, cantei músicas minhas e outras que falam da palavra de Deus. Também levei alimentos, café e marmitas.
A senhora declarou recentemente que não faz sexo há mais de uma década. Por quê? O sexo é ótimo, mas dentro de um casamento. Eu me separei de um casamento em 2007 e terminei um namoro de um ano em outubro de 2017. Ele não via problema em ter um relacionamento assim, sem sexo. Era namoro normal, com beijo na boca, pegando na mão. O namoro é para a gente se conhecer, ver as afinidades, mas chegamos à conclusão de que, para viver juntos, não tínhamos afinidade suficiente. Não quero pagar de santinha, nem fiz voto de celibato. Apenas cumpro o que está escrito na Bíblia.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585